1966 - 2021
Nos aniversários dos filhos ela fazia os bolos e confeitava, com isso aprendeu até um jeito de ganhar um dinheirinho extra.
Patrícia era a caçula de sete filhos e contava que, quando criança, era muito sapeca e extrovertida. Aos 17 anos engravidou de Natália e, vítima de violência doméstica, separou-se do pai de sua filha quando esta completou dois anos. Em um segundo casamento, que também não deu certo, teve Lucas e Bruna.
Depois das desilusões amorosas, conheceu André, com quem ficou casada por quase vinte e cinco anos. André modificou a vida de Patrícia positivamente. A vinda de Isaque foi como um milagre na vida do casal, pois quando engravidou, Patrícia já não possuía o colo do útero e nem o médico acreditava que sua gravidez terminaria bem.
Sobre sua relação com os filhos, Natália conta: “Na minha infância, minha relação com a minha mãe era de grande responsabilidade, porque eu ajudava a cuidar dos meus irmãos e era o braço direito dela. Éramos amigas, nossa relação é intensa. Cumplicidade, amizade. Fizemos tudo o que podíamos uma pra outra. Minha mãe era uma mãezona. Dava a vida em prol dos filhos, do nosso bem-estar. Na nossa infância nunca faltou nada, minha mãe era muito trabalhadora. E mesmo os filhos sendo de pais diferentes, minha mãe sempre foi muito amorosa com os quatro”.
Patrícia chegou a conhecer e cuidar das netas Lila e Adrielly, e participou intensamente do desenvolvimento delas apesar de ter tido pouco tempo para desfrutar de sua condição de avó. Muito amorosa, por elas daria até a vida se preciso fosse. Ela viveu todos os prazeres de ser uma avó tanto para as netas biológicas, como dos netos “emprestados”. Por eles pôde fazer tudo aquilo que os pais não fazem, até “estragar” com tanto mimo e cuidado, além de abençoá-los.
Para sobreviver Patrícia fez de tudo um pouco. Muito proativa, era ótima em limpeza e organização de casas. Para ela não havia tarefa difícil. Lavava, passava e era muito boa em tudo o que fazia. Muito prestativa, em algumas casas onde começava como faxineira, se havia pessoas idosas, logo ela se tornava cuidadora, até que viessem a falecer, e era muito recomendada pelas famílias, satisfeitas com seu trabalho.
Cuidadora nata, embora não tivesse diploma de enfermagem ajudava também mulheres que estavam para dar à luz. Ela ia para o hospital e chegou a ajudar as enfermeiras até em quatro partos. Ela servia de socorro a quem precisasse e oferecia-se espontaneamente para isso. Cuidava de idosos, crianças, órfãos, pessoas enfermas, machucadas e, por coincidência do destino, tinha sido babá do médico que cuidou dela no hospital antes de falecer. Ajudava as pessoas sem esperar nada em troca — e o que ela fazia com a mão direita, a esquerda não ficava sabendo.
Patrícia era o socorro em pessoa, como diz a filha Natália: “Brinco que minha mãe era o verdadeiro SAMU aqui da minha cidade. Ela tinha muito isso de ajudar, de resolver a vida do próximo tão facilmente. Eu sentia mesmo que era a mão de Deus intercedendo através dela”.
Gostava de fazer comidas mineiras no fogão a lenha: galinha, galinhada, pé de porco, canjica. Pegava um simples macarrão e transformava em uma "noite das massas". Ela cozinhava como ninguém! Trabalhou como cozinheira ao longo da vida e havia determinadas comidas que só ela sabia fazer. Mesa farta era com ela, tudo era motivo para juntar o pessoal. Uma frase que saía muito de sua boca era: “Vamos comer"?
Amava fazer farra, cantar parabéns e comemorar todos os aniversários dos filhos. Suas habilidades não se resumiam a cozinhar, era também uma verdadeira artista com as linhas. Sabia bordar ponto-cruz e fazer tapetes, roupas e forros de crochê para se distrair. Apesar de gostar muito de falar e brincar, na hora de seu artesanato gostava de ficar quietinha no seu canto. Gostava também fazer palavras cruzadas e, como hobby, era uma colecionadora daqueles potes de plástico de guardar alimentos de uma marca americana.
Patrícia gostava de prosear sobre tudo e sobre todos. Não era fofoqueira, mas podia ser chamada de “comentarista” do bairro e a prosa nunca vinha sozinha. Logo vinha um biscoito, um bolo, um café. “Se você estava triste, queria conversar com ela para espairecer a cabeça; se estivesse feliz e quisesse compartilhar algo com ela, ela também conversava. Ela era muito conversadeira, amava uma prosa. Ela gostava de sentar numa mesa para poder conversar. Para poder jogar conversa fora mesmo. Ela amava prosear”, conta Natália.
Foram tantos os momentos bons vividos com Patrícia, que a filha não considera justo selecionar algum como especial. Mas relata que, quando nasceu, teve problemas respiratórios que demandaram uma grande luta para que ela pudesse sobreviver; e que isso foi o seu grande exemplo e inspiração para enfrentar as dificuldades da vida.
Natália resume assim o aprendizado que teve com a mãe: “A maior lição que eu tive dela é que a gente tem que ajudar o próximo sem esperar nada em troca. Essa é a lição que eu aprendi com a minha mãe. Ela era meu exemplo de força, de persistência e de fé. Minha mãe era uma mulher de muita fé. Quando minha mãe orava, parecia que Deus estava lá. Nós vivemos muitas coisas juntas e com a fé a gente venceu todas elas. Todas as nossas tempestades foram vencidas por meio da nossa persistência, da nossa fé em Deus para poder vencer todas elas”.
Patrícia nasceu em Igarapé (MG) e faleceu em Nova Serrana (MG), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Patrícia, Natália Cristina Fernandes Almeida. Este tributo foi apurado por Rafaella Moura Teixeira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 22 de março de 2022.