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Paulo Henrique Pereira dos Santos

1965 - 2020

Um paizão para todos e dono de um abraço de urso gigante, do tamanho do seu coração.

Um homem apaixonado pelos batuques musicais desde criança. Amigo para todas as horas e dono de um abraço de urso gigante, do tamanho do seu coração. Filho de dona Cleurys, irmão de Niedja Fernanda e Clivia, pai de Pedro Henrique, Isa Maria e Gustavo, marido de Marianna, tio de Letícia, Paul e Marcos, e como um pai para todo mundo. Esse resumo descreve Paulo Henrique Pereira dos Santos. Ele não media esforços para ajudar os seus e também os outros.

Filho mais velho e único homem numa família com mais duas filhas, ajudou a criar as irmãs. Cuidava delas e da casa desde pequeno, ajudando a mãe. Foi uma criança que se dividia entre brincar e cuidar. Talvez daí tenha levado o aprendizado do cuidado para toda a vida e de ser família. Família essa que ele estendia além dos laços de sangue, como com tio Lucas e tia Lourdes, que o acolhiam como filho, junto aos filhos destes, desde a época da escola; ou a cunhada Polyanna e a sogra Maria José, com quem morava e dividia a vida; ou os cunhados Josebias e Fred, este segundo, um irmão querido.

Risonho por natureza, não sabia ficar com raiva. Até dando bronca era educado, como diria Isa. Difícil para chamar a atenção de alguém no trabalho ou em qualquer lugar. Paulo não tinha vergonha de chorar.

Pensava em todo mundo primeiro para depois pensar nele. Já chegou em casa sem camisa, depois de tê-la doado na rua para a mãe de um bebê usar como manta, junto com o pacote de fraldas que tinha comprado para ela. O programa da tarde de domingo tranquilamente virava, do nada, dirigir 12km para ir consertar o varal da mãe que acabara de quebrar.

"Acho que a missão dele foi vir para ensinar às pessoas o verdadeiro sentido do cuidado e do amor. E todo mundo aprendeu isso com ele", resume a esposa, Marianna, que é quem conta sua história neste relato. A despedida da sua missão aqui na terra foi um carnaval intensamente curtido em Olinda e Recife. Tocou seu instrumento querido, a caixa, em todos os dias da festa, acompanhado da esposa, da cunhada e do filho em toda a folia.

Depois do carnaval mais bem vivido de todos, Paulo silenciou sua caixa no dia 20 de abril, aos 55 anos. Com Marianna, que dividiu com ele seus últimos cinco anos, cinco carnavais, ensaios e apresentações no Maracatu, o amor de casal e o apelido de "Vida", fica, entre tantas outras, a missão de ensinar Pedro a tocar a caixa do pai, que já pediu para fazer o instrumento voltar a soar.

Paulo nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Paulo, Marianna Fernandes. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ismaela Silva, revisado por Luiza Carvalho e moderado por Rayane Urani em 4 de agosto de 2020.