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Paulo Matias Barros

1934 - 2020

Era capaz de ficar horas a fio sentado à mesa da cozinha, conversando, sem se cansar.

Paulo foi casado com Anette, o grande amor de sua vida, por mais de sessenta anos. Ela o chamava carinhosamente de Nego e ele foi seu primeiro e único namorado. Conheceram-se em Satuba e seu pai o incentivou a conquistá-la desde que a viu pela primeira vez. Dizia ele: “Essa moça é bonita, você deveria casar com ela!” Ele obedeceu e se casou com 23 anos, formando uma linda família que floresceu com cinco filhos, doze netos e dois bisnetos.

A neta Anny conta que “quando se conheceram só andavam juntos e de mãos dadas o tempo todo! Gostavam de fazer tudo, um na companhia do outro, até quando ele ficou mais debilitado e vovó Nete fazia tudo para ajudá-lo. E queriam sempre fazer muito, na saúde e na doença.”

E seguiram assim, cultivando essa bonita relação até os 80 anos de Paulo, idade em que ficou acamado devido a um problema de saúde e, desde então, Nete dedicou-se totalmente a ele, numa verdadeira demonstração de amor, carinho e cuidado.

Os filhos cresceram em um lar repleto de amor no qual os filhos foram muito amados e aprenderam a amar o pai eternamente. Sandra, Simone, Paulo, Péricles e Peterson sempre se orgulharam do pai que tiveram e o trataram com muito carinho durante sua longa vida. Cuidaram dele como um diamante precioso. "O almoço do domingo na casa do papai foi sempre um momento incrível e aguardado", recorda a neta.

Na família de Paulo todas as decisões eram criteriosas, até a escolha dos nomes dos filhos. Os dos homens foram escolhidos iniciando com o P de Paulo e os das mulheres escolhidos entre nomes de famosas que circulavam nas revistas da época e, desta forma, o de Simone foi inspirado em Simone de Beauvoir.

Ele amava reunir todos em sua casa aos finais de semana e também de assistir filmes e novelas rodeado pelos que ele convocava para isso. Sobre estas reuniões familiares, Anny relembra de uma bem especial: “Uma história muito marcante foi um encontro que fizemos com os irmãos dele e todos os sobrinhos, em 2019. Alguns irmãos que moravam em outros estados vieram nos visitar e passaram uns dias matando a saudade. Foi como um reencontro, uma despedida... Naquele dia toda sua família estava reunida. Foi um sábado muito feliz e emocionante porque não se encontravam pessoalmente por mais de dez anos. Aquele dia tão especial ficou registrado para todos da família.”

Paulo era muito atuante, ativo e interessado. Em sua juventude, lá pela década de 60, foi vereador em Setuba em um tempo em que esse trabalho era uma participação voluntária. Fez o curso de Técnico agrícola na Agrotécnica Federal da cidade, se apaixonou pela área e resolveu seguir como professor para compartilhar seu conhecimento. Concluída a experiência como vereador, trabalhou como funcionário público e professor de algumas escolas particulares, em Maceió.

Dentre os comportamentos que conservou, receber a comunhão aos domingos e falar sobre os ensinamentos de Deus para todos que dele se aproximavam, foram duas que carregou até o fim da vida.

Possuía o costume, também, de assistir programas de humor aboletado em sua cadeira de balanço, e estes eram momentos em que dava muitas risadas. Neles, gostava muito da companhia de um dos netos ou dos filhos, não se sabe se por não gostar de ficar sozinho ou se, com frequência, aproveitar a situação para falar que os amava mais que tudo.

Ele valorizava muito toda a sua família e, prova disso, é que vários dos seus sobrinhos como Tonho, Eric e Marquinhos, moraram em sua casa para concluir os estudos e foram considerados como filhos. Seu amor e cuidado para com todos que amava era admirável e ele sempre se despedia das pessoas que iam à sua casa dizendo: "Cuidado na estrada e Deus os acompanhe. Vá devagar!”

Ele tratava as pessoas bem e sua inteligência o mantinha antenado a todos os fatos e com propriedade para conversar sobre tudo. Sua bondade e solidariedade se manifestavam no desejo constante de ajudar e lutar pelo bem comum. Com esse objetivo foi capaz de ir certa vez a Brasília, com recursos próprios, em busca de melhorias para a cidade, bem como ajudou a reconstruir a igreja matriz de Satuba, cidade onde morava.

Corajoso, dedicado e determinado, participava das causas sociais procurando fazer sempre o melhor por amor ao próximo. Tentava ser um bom amigo e, quem o conheceu, sabe o quanto ele era feliz e abençoado. Ele fazia jus à uma citação da bíblia que vivia repetindo: "Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida." João 8;12.

A neta Anny e o filho Péricles contam emocionados se recordando de momentos especiais que viveram com Paulo: “Apoiava todos os nossos sonhos, dava conselhos e muito amor. Quando íamos visitá-lo dava um beijinho na cabeça de cada um dos netos. E aos domingos à noite, quando os filhos iam voltar pra casa, falava: “Cuidado na estrada. Deus o acompanhe!”

Na opinião de ambos foi um “esposo, pai e avô que deu exemplo de força, coragem e muita determinação!” que continua sendo, em memória, um grande incentivador e, com certeza, gostaria de ser lembrado alegre e falando coisas engraçadas como sempre fez até em seus últimos dias.

Paulo nasceu em Satuba (AL) e faleceu em Maceió (AL), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado neta de Paulo, Anny Barros. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2021.