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Pedro José da Silva

1943 - 2020

Habitualmente aguardava a filha chegar do trabalho para jantarem juntos, com um delicioso cuscuz fresquinho, feito por ele.

Seu Pedro, como todos o conheciam, amava andar de bicicleta. Saía pela cidade distribuindo sorrisos e amor. Também era chamado de "Seu Pedro, vigia do Ronaldão", pois passou grande parte da vida cuidando do conhecido complexo esportivo de João Pessoa.

No campo de futebol, proporcionou a muitas crianças a alegria de jogar em um gramado e conhecer o túnel por onde os jogadores passavam.

Antes do trabalho no Ronaldão, cortava cana para sustentar a família, e também trabalhou como entregador de cargas. Na infância foi agricultor do sítio que morava com os pais e irmãos.

Seus pais eram Isabel e Cazuza. Os irmãos eram muitos! Nenê, Luiz, Chicó, Niná, Biano, João, Zé, Fatinha, Toinha e Sebastião.

Uma história marcante de sua infância era de sua época de estudante, em que andava muito pelo mato, passava por rios, e tinha Dona Joaninha para lhe ensinar sobre a Cartilha do ABC. Sua farda para a escola era branca com shorts azul.

Uma de suas maiores qualidades foi servir ao próximo. Ajudava a todos e se fazia presente em tudo. Tornou-se amigo dos amigos de Gabriela, sua caçula. Mesmo quando Gabi mudou de emprego, Pedro ia até o antigo trabalho da filha para cumprimentar suas colegas e levar milho assado para comerem.

Gostava de pegar tanajuras, e quando o fazia ficava com as pernas mordidas das formigas. Não as pegava para seu próprio consumo, pois nem ele nem sua filha comiam, mas dava às pessoas que encontrava pelo caminho.

Tinha o costume de ler a Bíblia e falar dela para Gabi, principalmente sobre as histórias dos apóstolos. Levantava cedinho, acordava a filha para ir ao trabalho, sentava-se no terraço e pegava sua Bíblia para começar a leitura. Outro passatempo era assar espigas de milho com os idosos que as vendiam. Até tentou vender também, mas mais dava milhos do que vendia!

Com seu jeitinho de esperto, cochilava no sofá, e, quando sua filha o acordava para ir para a cama, respondia: "Não estava dormindo, estava só descansando os olhos". Também deixava, algumas vezes, a torneira da pia aberta. Quando Gabi chamava sua atenção, ele dizia: "Não fui eu não!". "Só moramos eu e o senhor em casa, painho, se não fui eu, só pode ter sido o senhor", dizia ela. E ele insistia com sua esperteza: "Foi alguém que entrou aqui e ligou a torneira, só pode".

Gabriela chegava do trabalho às 18h, e em sua casa tinha um cuscuz para o jantar, preparado com muito amor por Pedro. Era regra jantarem juntos enquanto assistiam ao jornal. Aos finais de semana, passavam o tempo assistindo à televisão e comendo uns docinhos em formato de dentadura, os preferidos de Pedro.

Seus programas favoritos eram aqueles de perguntas e respostas. Pedro respondia às perguntas como se estivesse lá participando.

Além de Gabi, Pedro também era pai de Eloi, o filho mais velho. Eloi morava em outra cidade. A relação dos três sempre foi muito boa.

Gabi conta que Pedro tirava folga às quartas-feiras e passava este tempo livre andando de bicicleta com os filhos, jogando bola em frente à casa...

Fazia os gostos dos dois, comprava os doces preferidos, levava-os para tomar banho de açude e ainda ensinava-os a pescar, mesmo não pegando peixe algum.

Não gostava de andar de carro, nem de moto. Era difícil fazê-lo ir à praia, mas quando ia, difícil mesmo era tirá-lo de lá, gostava muito de nadar. Sua preferência e gosto por bicicletas era por ter viajado muito em sua juventude, então se dizia cansado dos outros meios de locomoção. Certa vez precisou ir ao hospital após ter sido picado por um escorpião, e Gabriela disse para ele subir na moto que ela o levaria até o médico. Ele só aceitou depois de ela muito insistir.

Gabi diz que acrescentaria um milhão de linhas para expressar sua saudade, e que todas as doses da vacina que ela tomou foram por ele. "Sua fé inabalável é viva no meu coração. Te amo, meu painho!"

Pedro nasceu em Pedras de Fogo (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Pedro, Gabriela Assis da Silva. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha , editado por Gabriela Assis da Silva, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 3 de maio de 2022.