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Pedro Queiroz dos Santos

1946 - 2020

Um barbalhense de fé, coragem e simplicidade.

Dono de uma vida simples no interior, Seu Pedro, como era conhecido, era agricultor, operário, ambulante e dono de restaurante.

Torcedor fanático do Icasa, de Juazeiro do Norte, acompanhava todos os jogos de futebol pelo rádio, principal legado da juventude.

Seu principal hábito era cuidar do restaurante. Mais do que uma fonte de renda, lá era "o seu lugar no mundo", onde clientes tornavam-se amigos.

Sabia cativar as pessoas. Amou sua esposa, Dona Neide, com quem compartilhou mais de cinco décadas de convívio. Era o amor dos filhos Paulo Roberto, Carlos Antônio, Lindório, Alessandra, Alana e dos netos.

Era cristão e tentava ajudar todos os necessitados a terem o mínimo de dignidade.

Ele e seu filho Lindório comunicavam-se pela reciprocidade no olhar. “De todas as aventuras que tive com ele, tem uma em que trocávamos lembranças apenas no olhar. Eu, com 12 anos, e ele, já com 47, fomos visitar uns parentes no interior do Pernambuco e, chegando lá, fomos convidados a ir pescar, não era uma pescaria comum. Tratava-se de um rio que, com a cheia, alagava uma área das terras dos nossos parentes, onde a água dava na altura dos joelhos. Tornando assim muito fácil a pescaria de um peixe chamado curimatã que, ao ser desprezado pelo rio, sofre com a vegetação do sapal e fica cansado, facilitando assim sua captura, que é feita com as próprias mãos. Enfim, num certo momento, tivemos que atravessar o rio. Todos os demais eram acostumados a fazer a travessia, mas eu e meu pai ficamos por último. Papai não tinha resistência pra nadar, então tive que ajudá-lo e esse foi um momento único, onde, abraçado com meu garotão, pude me divertir como nunca. Se eu tivesse com ele e alguém falasse em nadar, em rio ou em pescaria, não dava outra coisa. A gente se olhava e ria como crianças. Meu pai querido, um dia vamos nos encontrar de novo”, conta Lindório.

Junto com Dona Neide, Seu Pedro virou nome do restaurante, e seus filhos agora carregam o legado dos pais por onde vão.

Pedro nasceu em Barbalha (CE) e faleceu em Icó (CE), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Pedro, Lindório Pereira dos Santos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Alexandre Ramos Costa, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 6 de novembro de 2020.