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Pedro Wilson Barreto

1966 - 2020

Apaixonado por estradas, partiu para sua última e mais bela viagem deixando grandes recordações.

Chumbinho, Paraná e Pedrão eram alguns dos apelidos do marido da Márcia e pai do Willian e da Lilian. Um homem que cumpriu de maneira exemplar seu papel como pai, marido, filho, irmão e tio. Era muito querido por todos e fez amigos na estrada, no tiro de guerra e nos empregos por onde passou.

Era impossível andar pelas ruas de São João da Boa Vista ao lado do alegre e sorridente Pedro sem que fossem necessárias inúmeras paradas para cumprimentar e conversar com quem cruzasse pelo caminho. "Parecia uma figura pública, um vereador", conta a filha.

Suas folgas aos sábados eram reservadas para renovar as energias curtindo seu hobby favorito: a pescaria. Aos domingos, costumava ir à feira para abastecer a geladeira com as verduras que tanto gostava e para comer paçoquinha feita na hora. Ele se deliciava com os pedaços ainda quentes da paçoca recém-saída do tacho.

Para ele, era obrigatório pegar a estrada até a praia com a família ao menos uma vez por ano. Sua maior paixão eram as estradas. Era apaixonado por carros, caminhões, carretas e fez disso sua profissão. Ele dizia recorrentemente para a filha: "Já encaminhei seu irmão para a vida. Quando você estiver encaminhada, vou comprar um caminhão e viajar o Brasil com sua mãe”, relembra Lilian.

"Nunca mediu esforços para dar o melhor para nós. Não há palavras que expressem a gratidão que tenho por tudo que ele e minha mãe fizeram para que nós dois tivéssemos uma educação brilhante. Eles nos deram a melhor base possível para corrermos atrás dos nossos sonhos", diz a filha.

"Por mais que todos sejam passíveis de erros, não consigo sequer lembrar algum defeito dele", reflete Lilian ao falar sobre o saudoso pai e relembra que a única vez que ele levantou um pouco mais o tom de voz com ela foi quando estava recém-habilitada e derrubou o para-choque do carro. "Aquele dia foi tenso!", ela conta.

Pedrão dizia que não queria mais saber de cachorros, que não teria mais criação, mas bastou uma semana ao lado de Thor para que se apegasse ao novo integrante da família e começasse a mimá-lo de maneira exagerada até, deixando o animal mal acostumado, tal qual um avô "estragando" o netinho.

Indubitavelmente, seu maior sonho era ver os filhos felizes e alcançando seus próprios sonhos, tanto que abriu mão de muitas coisas para isso. Contava com orgulho que o filho era engenheiro bioquímico formado pela USP e que a filha cursava Biomedicina na Universidade Federal de Alfenas. A filha, que sempre se esforçou para honrar todo esse sacrifício, não via a hora de dedicar seu diploma aos pais, mas a formatura realizada ainda durante a pandemia, por uma plataforma online, contou apenas com familiares e amigos ─ sem a presença do fã número de Lilian. Ela acredita que, de onde estiver, o pai certamente pôde assistir e vibrar com a conquista que foi dele também.

Apesar de ter viajado pelo Brasil inteiro, ter conhecido cada canto e passado toda a sua vida nas estradas fazendo o que amava até seus últimos dias, Pedro sempre foi um pai presente e que amparou com afeto e cuidado.

Ainda que seja difícil viver sem a alegria dele e celebrar sem sua presença física, a família continuará honrando o que foi construído por Pedro, seguindo os objetivos e alcançando novas vitórias em sua memória.

Pedro nasceu em Bom Sucesso (PR) e faleceu em São João da Boa Vista (SP), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Pedro, Lilian Cristine Barreto. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 29 de abril de 2021.