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Raimunda Maria de Souza

1938 - 2020

Por meio de seu ofício, tecia roupas, costurava esperanças e bordava generosidade; tudo arrematado com sua gargalhada contagiante.

Este é um tributo que Ângela escreveu para sua avó, Raimunda:

Minha vozinha era uma mulher simples e guerreira. Criou dez filhos e também alguns netos.

Me lembro muito de todas as vezes em que fomos à casa dela. Éramos recebidos com a maior alegria do mundo. Não sabia o que fazer para nos agradar.

Era teimosa, achava que podia dar conta de tudo sozinha.

Dona Raimunda era a pessoa mais de bem com a vida que já conheci, como dizem por aí não tinha “tempo ruim” para ela, tudo estava bom.

Não era uma otimista fora da realidade, era uma mulher de pé no chão, forte, e com muita esperança no coração.

Diante de tantas adversidades da vida sempre dava um jeito de soltar um sorriso e logo uma gargalhada contagiante, principalmente quando encontrava com suas irmãs.

E não tinha lugar para o mau humor. Lembro-me do velório de um parente próximo, uma dessas ocasiões em que todos os familiares se encontram; mesmo em meio a toda aquela tristeza, ela sempre estava ali forte, sendo o sustento de todos. E de repente soava uma gargalhada junto com as outras tias-avós.

Uma mulher de profunda ligação com o hábito da oração, era amiga de Deus. Todos estavam incluídos em suas preces; seu coração era dotado de uma generosidade inigualável.

O que mais gostava de fazer? Rezar, estar com os seus e ajudar o próximo, mesmo o pouco que tinha se tornava muito em suas mãos.

Tinha o sonho de poder viajar, reformar sua casa... Com o ofício de costureira - a melhor que já conheci -, criou seus dez filhos; sofreu a dor de perder quatro deles e também seu esposo.

Uma guerreira do amor. O mundo perdeu uma grande flor nesse jardim, mas Nosso Senhor a colheu, formando um grande ramalhete no céu com seus atos de bondade.

Ela amava o Roberto Carlos e se emocionava com as músicas dele.

Vó, “como é grande o meu amor por você”. Te amo pra sempre, minha flor.

Raimunda nasceu em Nova Russas (CE) e faleceu no Distrito Federal, aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Raimunda, Ângela Keila Marinho de Souza. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 25 de março de 2021.