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Raimundo Alves

1939 - 2020

Apaixonado e amoroso, nunca se esqueceu da roupa que a amada usava quando se conheceram.

Raimundo sempre foi uma pessoa de vida simples, sem muitas ambições... até conhecer sua amada Raimunda. Viver esse amor passou a ser seu maior sonho e sua maior motivação.

Partiu rumo a Brasília em busca de um emprego que aumentasse sua renda para que, então, pudesse firmar um compromisso mais sério. Tão logo a situação permitiu, Raimundo comprou as alianças e fez o pedido de casamento por meio de uma carta que viajou de volta ao Maranhão na esperança do "sim" de Raimunda.

Cartas eram o meio que os dois encontraram para driblar a distância. Encontradas pela família, anos depois, são registros valiosos da história de amor dos "Raimundos", como ficou conhecido o casal. Fotos com dedicatórias e declarações também estão entre as lembranças de toda vida que decorreu desse encontro de almas.

Seu Raimundo, que nunca esquecera a roupa que dona Raimundinha usava quando eles se conheceram, também mantinha viva em sua mente a lembrança das vestes que a amada trajava quando pegaram o voo para Brasília. Chegaram à capital federal durante a ditadura militar e, como era de praxe, tiveram que se explicar, mas nada os intimidou.

Dali em diante, estariam juntos como família para sempre. Seu Raimundo foi o primeiro dos seus a mudar de estado e, aos poucos, outros fizeram a mesma mudança. Sempre com o apoio de dona Raimundinha, recebia cada um deles em sua casa até que se estabelecessem.

Em meio a tudo isso, a união dos Raimundos tornou-se ainda mais especial com o nascimento de Jane, Rejane, Elaine Cristina e Maria Auxiliadora. Responsável como era, o pai ensinou o necessário para viverem bem e deu a elas muito amor e inúmeros motivos para sorrir.

Jane conta que o pai era "muito alegre e engraçado", capaz de rir até nas dificuldades. Seu Raimundo adorava ouvir música e dançar com as filhas nas folgas de domingo; são lembranças que todas guardam com muito carinho junto a tantas outras que vão desde a crença infantil no Papai Noel até os cuidados que assumiram quando a saúde do pai começou a demandar mais atenção, caminhadas a passos lentos e banhos de sol.

Com o avançar da idade, seu Raimundo passou a conviver com o Alzheimer. Jane conta que o pai foi esquecendo tudo à medida que a doença avançava, só não esquecia sua amada Raimunda, com quem continuava dormindo abraçado e chamando de "meu bem".

Ambos, seu Raimundo e dona Raimundinha, precisaram ser internados. Sem poderem se ver, ele ainda recebia a preocupação carinhosa da esposa e recados amorosos das filhas. Ao seu "papai", Jane pode mandar um áudio declarando seu amor, agradecendo pelos aprendizados e manifestando gratidão a Deus pelo pai que ela e as irmãs tiveram.

Dona Raimunda se foi primeiro para receber seu Raimundo quarenta e três dias depois. Assim, os cinquenta e seis anos de matrimônio seguiram para a vida eterna. O casal partiu deixando saudades e uma linda história de amor.

Para conhecer a história da esposa de Seu Raimundo, procure por Raimunda Viana Abreu Alves.

Raimundo nasceu em São Domingos do Maranhão (MA) e faleceu em Brasília (DF), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Raimundo, Jane Alves Barreto. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de março de 2021.