1938 - 2020
Alegre contador de histórias, tinha mania de se importar com todo mundo.
Alegre contador de histórias, Raimundo merece que a sua seja contada, após o trágico fim com o qual se resignou - “Fiquem em paz com os seus, que em breve poderei fazer a minha viagem”, disse ele no testamento que deixou escrito à mão.
Numa de suas narrativas preferidas, todos comiam, sem saber, um calango misturado num baião. A panela estava no fogo sob os cuidados de Raimundo criança, mas foi esquecida por ele, que foi brincar no quintal. Na comida, caiu o bicho. Ao esconder a prova, o menino se livrou de uma surra da mãe.
Gostava muito de jogar bola, quando não fugia para o mar – pescar em sua canoa era sua paixão, dividida com os times do Santos e do Ceará. À noite, ria das piadas dos humoristas locais.
Mania que tinha era de sempre se importar com todo mundo e querer ajudar todos, independente de ser só um conhecido ou um familiar.
Casou duas vezes, teve sete filhos com Francisca e dois com Eunice. Deixou também 22 netos e dez bisnetos.
Apelidado de Mundoza, por ter nascido em Mundaú, interior do Ceará, foi cabo na Base Aérea, de onde pediu dispensa para se casar. Depois de uma década na carpintaria, foi servir à Secretaria da Fazenda do Estado. Estava aposentado.
Homem bem-humorado, altruísta, honesto e grato. Muito amado pela família e amigos, sua alegria e generosidade tomavam conta, onde ele chegava.
Raimundo nasceu em Mundaú (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Raimundo, Melyssa Canário. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Priscila Kerche, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de julho de 2020.