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Raimundo de Sousa Pontes

1934 - 2020

Das ferragens à paçoca, Raimundo só deixou saudade.

Raimundo, o Raimundinho da Belinha, ou Tavudim, era um cearense de Russas, cidade do sertão do estado, filho mais novo, caçula como se diz, de uma rama de quatorze filhos, como era comum nas famílias da época.

Vindo de uma família grande e unida, cresceu ali pelo sertão, correndo e brincando como qualquer menino do lugar e ali fazendo sua trajetória de homem reto e amigo de muita gente. Muitas foram as histórias contadas por Tavudim a sua família ao longo do tempo.

Ali mesmo, em Russas, construiu sua família e iniciou sua vida de comerciante de materiais de construção e ferragens, negócio que manteve por muitos anos.

"Tinha orgulho de contar que havia sido elogiado por um Auditor da Receita Estadual, como 'o empresário mais organizado que ele tinha conhecido'", contou sua esposa, Maria Gilvanise de Oliveira Pontes.

“Meu querido Dindo era um homem íntegro, honesto, organizado, bem-humorado, brincalhão; um exemplar pai de família e marido”, completou a esposa.

Foram quase quatro anos de namoro com a esposa, com quem permaneceu casado mais cinquenta e seis. Nasceram quatro filhos: Loredano, Giseuda, Mércia e Luana; seis netos: Keytiane, Luana, Leonardo, Mariana, Artur, Lucas e mais duas bisnetas: Mariana Sara e Ester. “Nossa linda história de amor nunca terá fim”, disse Maria Gilvanise.

Depois que saiu de Russas com a família, foi morar em Fortaleza e passou a frequentar a Igreja Plenitude de Bênção, pastoreada pelo filho mais velho, Loredano.

Gostava de retornar sempre que possível à terra natal, para rever suas origens e prosear com os amigos Fransquinho e Zé do Rancho. A conversa era garantida e as lembranças vinham aos borbotões.

Em Fortaleza, seu passeio predileto era uma caminhada pelo shopping com a esposa, o filho mais velho e sua nora Selminha, para olhar as vitrines.

Além disso, não dispensava a oportunidade de fazer uma boa paçoca nordestina - de farinha de mandioca com carne seca -, para servir a quem o viesse visitar; também adorava comer panelada com Loredano e os netos Leozinho e Luquinhas, aos sábados. Os netos sempre queriam estar perto dele, porque a conversa era sempre animada e nunca terminava.

“Quis Deus recolhê-lo de nós e deixar-nos saudade”, conta-nos a esposa. E acrescenta: “Cremos que, brevemente, estaremos juntos, com o Senhor, por toda a eternidade!”

Raimundo nasceu em Russas (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Raimundo, Loredano de Oliveira Pontes. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Sandra Maia Farias Vasconcelos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 7 de junho de 2020.