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Raimundo Nonato Sales de Souza

1955 - 2020

Ficaram a alegria, o sorriso e os olhinhos brilhando do porteiro do Condomínio Macondo.

Por muitos anos (já nem lembro quantos), era de lei o meu "Bom dia, Seu Nonato!". E quando esse "Bom dia" não era dito, ele mesmo me lembrava, diz a vizinha Gislene.

"Seu Nonato foi porteiro do condomínio onde moro. Tínhamos divergências políticas, mas conversávamos sobre isso numa boa, carinhosamente. Ele atravessou muitas dificuldades em sua vida e me contava, às vezes. Sempre rezei por ele e sua família e o escutava quando possível. Passados os muitos anos de trabalho por aqui (e de vida), esquecia o portão da garagem aberto e algumas vezes esquecia de avisar sobre as encomendas deixadas na portaria. Lá ia eu: "Seu Nonato, o portão tá aberto!", "Seu Nonato, tem encomenda pra mim aí?". Eu ria por dentro. Essas coisas são normais no convívio com os porteiros e zeladores, a quem sempre agradeço pelos cuidados com nossa segurança. Seu Nonato fez parte da história do Condomínio Macondo.

Do Seu Nonato o que ficaram foram os momentos de alegria, a presteza que ele sempre demonstrou, a conversa amiga... os olhinhos brilhando. Vá em paz, Seu Nonato, somos muito gratos pelos anos de trabalho e cuidado conosco.

São pessoas e suas histórias, não são números. São seres humanos como nós. Sentimos muito mesmo. Nossa família toda sente muito."

Raimundo nasceu Fortaleza (CE) e faleceu Fortaleza (CE), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

História revisada por Julio Casimiro, a partir do testemunho enviado por vizinha Gislene, em 17 de agosto de 2020.