1953 - 2020
Um homem com espírito de poeta que saboreou a vida qual um sorvete de casquinha.
Homenagem da filha, Rafaela, a seu amado pai:
"Eu já te disse
Para ser poeta,
tem que ser mais que poeta", diz a epístola a Regis, escrita por Paulo Leminski.
Regis (não o destinatário da carta, mas o pilar de nossas vidas) foi poeta também.
E sem saber, seguiu o conselho de Leminski: foi mais, sempre mais.
Amou esposa e filhos, foi um avô orgulhoso e apaixonado. Encontrou no jornalismo uma missão, uma eterna fonte de realização e de angústia. E mesmo com o passar dos anos, torceu pela Beija-Flor, pelo Botafogo, amou Maria Bethânia, quis reunir os irmãos em festa e viajar para o mato.
Até o fim, quis sorver a vida, sorver em sorvete de creme. Até o fim, chorou com as injustiças. Pedia que, em sua despedida, ninguém chorasse. Ao contrário: queria música. Mais precisamente, os versos de Sérgio Sampaio:
"Há quem diga que eu dormi de touca, que eu perdi a boca, que eu fugi da briga
que eu caí do galho e que não vi saída
que eu morri de medo quando o pau quebrou.
Há quem diga que eu não sei de nada,
que eu não sou de nada e não peço desculpas
que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira e que Durango Kid quase me pegou.
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer.
Eu quero é botar meu bloco na rua".
E botou. O bloco na rua e o coração a bailar.
Por tudo isso, foi mais que poeta. Devorou os dias e foi por eles devorado.
Deixou-nos uma dor dolorida, uma ausência premente, o silêncio da voz grave.
Regis nasceu em São Luís (MA) e faleceu em São Luís (MA), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Regis, Rafaela Lima Marques. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Rafaela Lima Marques e Ana Macarini, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2022.