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Renata Lourdes de Oliveira

1975 - 2022

Seu espírito independente e sua enorme teimosia em transpor obstáculos fizeram dela uma desbravadora da vida.

Tata sempre foi o elo da família. Não só cuidava dos laços a unir todos, como era a responsável pelas melhores histórias peculiares e todo tipo de registro. A qualquer momento, por mais simples que fosse o fato, ela considerava extraordinário e digno de fotos e vídeos, com direito a futuras postagens em redes sociais e todos os "status" públicos possíveis.

Renata nasceu com um grave diagnóstico de problema na coluna e os médicos à época previam uma vida curta, devido às complicações em decorrência de sua escoliose. "Não vai passar dos 10... dos 18... dos 26, disseram. E assim, ela chegou aos 47 anos", conta a sobrinha Juliana, que lamenta sua partida, por ainda enxergar tanta vida em sua tia.

"Seu corpo pequeno, desde os pezinhos até o coração (que era do tamanho de um ovo de galinha, como os médicos lhe explicaram) nunca a impediram de ir atrás do que quisesse. Chegou a viajar sozinha pra Ibitinga, cidade a quase 400 quilômetros de distância de casa, para conhecer uma amiga que tinha feito através das redes sociais. E tinha planos de retornar", diz Juliana.

Assim era a Tata. Mesmo com todas as suas limitações, sempre muito independente. Amava bater pernas pra todo lado, apesar do sacrifício. Nessas caminhadas, era parada obrigatória um cafezinho em uma das grandes lojas de móveis e eletrodomésticos existentes em sua cidade.

A sobrinha lembra o quanto lhe faltava a viver e realizar. "Ela sonhava com uma casa boa, com espaço pros seus 'filhos', que pra ela eram tudo. Sempre foi apaixonada por cachorros, deixou sete esperando por ela em casa, além de minha avó, que sempre cuidou e viveu por Tata. Elas dormiam e acordavam juntas todos os dias".

Dona Goreti sente imensa falta da filha e até das funções de cuidado que tomou pra si: era ela quem marcava os médicos de Tata, a acompanhava nas consultas e buscava seus remédios.

"Tata sempre foi intrometida e folgada; brincava ao dizer que dávamos muito trabalho, mas sabíamos que era da boca pra fora, ela nos amava muito. A vida toda minha tia se virou com sua aposentadoria, que era pouca, e ainda nos socorria, se precisássemos. Xingando, mas socorria", entrega com sorrisos e saudade a sobrinha.

No início da pandemia, chegou a comprar uma roupa tipo astronauta para se proteger. Juliana acha graça: "Mais um dos seus achados em aplicativos de compras estrangeiros. Era viciada em conseguir prêmios e reverter em compras nesses locais".

"Cresci com a minha tia ao meu lado, inventando brincadeiras, nos atualizando das modas, desde músicas da época a tecnologias do momento. Tata sempre esteve presente em tudo, fosse torcendo ou me xingando. Era minha companhia nas compras de presentes para minha mãe. Tata foi uma extensão dos meus pais. Eu sabia que podia contar com ela pra tudo. Entre tantas conversas, ela me trouxe um papo de casamento que tivera com uma prima nossa: ser minha dama de honra. Como eu queria! Ela faz muita falta. Em absolutamente tudo! E seguirá fazendo muita falta em todos os momentos das nossas vidas".

Renata nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Santa Isabel (SP), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Renata, Juliana Aparecida de Oliveira Silva. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Denise Pereira, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 25 de fevereiro de 2023.