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Ricardo Marcelo do Nascimento

1974 - 2020

Fazia caridade de maneira anônima e dizia que "o que a mão esquerda faz, a direita não precisa saber".

Apesar de seu primeiro nome ser Ricardo, era chamado de Marcelo desde criança e entre os amigos era conhecido como "Marcelão".

Era um homem marcante, que fazia amigos e conquistava pessoas por qualquer lugar que passasse. Muito amigável, o famoso "Marcelão” brincava, fazia piadas, mas também sabia aconselhar e ajudar com um senso de caridade, bondade e justiça incríveis, sempre realizando muitas ações sociais, das quais nunca se vangloriou.

Como pessoa muito falante, sua presença nas reuniões de amigos e familiares sempre era notada e requisitada. Ele era a base da esposa, dos filhos, de suas irmãs, de seus pais, a todo instante defendendo, cuidando com muito amor, trabalhando e se esforçando para prover-lhes tudo o que necessitavam.

Marcelo soube plantar sonhos no coração da esposa Beth e dos filhos Carla e Kalebe e lhes ensinou sobre caráter, honestidade com palavras e principalmente lhes oferecendo o maior e melhor exemplo que eles poderiam ter, enquanto ele mesmo cultivava sonhos de poder dar-lhes sempre uma vida tranquila, vê-los formados na faculdade e de viajar pelo Brasil quando se aposentasse, dirigindo e conhecendo o país.

Viajar e dirigir por trabalho ou por lazer, era sua outra paixão e chegou a realizar seu grande desejo de conhecer o mar. Gostava de conhecer lugares novos, mas as viagens de avião não o atraíam porque lhes roubavam o prazer de estar na direção do carro. Seu destino preferido, sem dúvidas era o Paraguai, porque amava fazer compras lá.

Ele era Representante Comercial, com muito orgulho. Era ótimo para negociar e realizar vendas. Nos últimos anos trabalhava como representante de medicamentos e se apaixonou pela área farmacêutica. Conhecia todos os remédios, nomes, dosagens; estudava sobre o assunto com muito empenho e, no trabalho, seus clientes tornavam-se todos seus amigos.

Amava ir à igreja, vestir um terno e estudar a Bíblia. A fé era algo muito importante em sua vida. Ele sempre colocava Deus como principal norteador de suas ações. Sempre que ficava sabendo sobre algum irmão da igreja que estivesse passando por necessidades financeiras, ajudava por conta própria com cestas básicas, remédios e até dinheiro para pagar as contas. Somente sua esposa sabia e nem mesmo de tudo, porque depois que ele faleceu, ela soube sobre muitas pessoas que ele havia ajudado e não contou, pois não achava que devesse se vangloriar disso.

Ele nunca gostou de cozinhar, mas certa vez, quando sua esposa passou um período doente, aprendeu a fazer algumas comidas com muita dedicação. A preferida era churrasco, e ele nunca abria mão de fazer no almoço de domingo com a família. Marcelo entendia tudo de cortes de carne, temperos, formas de assar e fazia questão de estar à beira da churrasqueira cuidando de tudo. Ensinou seu filho e seu genro a serem bons churrasqueiros. Sua costela assada ficou conhecida entre todos.

Das boas lembranças com a filha Carla, ela destaca algumas: “Um dos hábitos mais marcantes e que fazem falta é que ele fazia questão de ser o primeiro a mandar as felicitações de aniversário para as pessoas que amava. E todos os anos, no dia do meu aniversário, ele me contava a história do meu nascimento e finalizava dizendo que aquele foi um dos dias mais marcantes da vida dele”.

E continua: “Nós vivemos muitos momentos engraçados, mas um em específico foi na praia. Ele estava muito feliz, pois estava realizando seu sonho de conhecer o mar. Em determinado momento, uma onda forte derrubou minha mãe e, tentando ajudá-la a se levantar, ele acabou perdendo os shorts. Ao perceber, se abaixou na água até conseguir se vestir novamente. Ele estava tão feliz que a situação não o abalou e ele continuou brincando na água e rindo da situação. Essa história virou motivo de risadas por muito tempo”.

Marcelo será para sempre lembrado por tudo o que viveu...

Ricardo nasceu em Ubiratã (PR) e faleceu em Umuarama (PR), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Ricardo, Carla Cristiane do Nascimento. Este tributo foi apurado por Gabriel Rodrigues, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 10 de abril de 2022.