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Rita Fernandes Lima

1961 - 2020

Adoçava a vida com geleia de mocotó e muita música no coração.

Cearense, forte como todos aqueles que nascem no semiárido brasileiro, a menina de 8 anos, que perdeu a mãe para a tuberculose, levou uma vida de entrega total à família.

Seu pai, que num “pau de arara” foi para Brasília se tratar da mesma doença que matou sua mulher, a levou um dia com seus irmãos para o centro do país onde criaram raízes. A trajetória de vida do pai não foi nada fácil, mas Rita se manteve ao lado dele, ajudando a construir uma nova família.

As irmãs de Rita constituíram família, mas ela permaneceu na casa paterna e solteira. Suas vistas já apresentavam problemas que foram piorando até a completa perda da visão aos 14 anos.

Rita nunca estudou, mas ajudava na casa e “ai de quem não deixasse que ela lavasse as louças e as roupas”, relata sua irmã Edilene. Mesmo tendo desenvolvido outras enfermidades ao longo da vida, não se aquietava e estava sempre na lida.

“Quando uma das irmãs casou ─ a que ela era mais apegada ─, quis levá-la para morar com ela”, conta Edilene. Dessa maneira, ajudou a criar mais cinco sobrinhos até seu último dia de vida.

Assim Rita viveu. A família era sua grande motivação. Ajudou e viu crescer de perto os sobrinhos. O amor que nutria por todos era demonstrado com dedicação e carinho nas mais diversas e nobres ações. Apesar de tudo, participou e contribuiu continuamente com o bem-estar de sua gente querida.

A única coisa que tirava Rita de casa era a igreja. Ela gostava muito de estar presente nas pregações, fazer suas orações e ouvir as canções que lhe davam alívio e alegria. Sua fé inabalável continuava sendo cultivada em casa, onde ouvia com frequência as músicas religiosas.

Rita deixou marcas importantes na vida de todos da família. Ela será sempre lembrada com carinho e gratidão por tudo que fez.

“No céu receba meu abraço que não pude dar, sabor geleia de mocotó que você tanto gostava. Esteja em paz, minha irmã!”, assim Edilene se despede.

Rita nasceu em Mucambo (CE) e faleceu em Águas Lindas de Goiás (GO), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Rita, Edilene Sales Lima. Este tributo foi apurado por Sonia Ferreira, editado por Míriam Ramalho, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 30 de junho de 2021.