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Rivaldo Teixeira Soares

1971 - 2021

Durante as tempestades, sentava-se no chão, ao lado do cachorro, para conversar e acalmar o fiel companheiro.

Nascido e crescido em São João Nepomuceno, ele partiu para Juiz de Fora, a 65 quilômetros de distância, em busca de melhores oportunidades. Foi acolhido pelos tios Maurinho e Solange e lá dedicou-se totalmente aos estudos. Era muito caseiro e, se o seu ofício era estudar, o seu passatempo era ler, como dizia a tia. Sendo autodidata, a leitura foi mantida por toda a vida como programa preferido dos finais de semana.

Responsável, determinado, inteligente e apaixonado pelo conhecimento, Riva, como era chamado, não media esforços para ajudar alguém quando era solicitado. "Quando não sabia como fazer algo, tratava de pesquisar e aprender. Estava sempre dividindo seus conhecimentos", diz, com orgulho, a irmã Lucira.

Chefe da família, Rivaldo sentia-se responsável por todos. Era apaixonado pela irmã. Suas sobrinhas Raissa e Milena não cansam de dizer que Riva "era o tio preferido, o Número Um!" Dono de uma sensibilidade extrema com crianças, Riva divertia as sobrinhas. E divertia-se também: "Amava fazer palhaçadas e agradá-las com doces e chocolates escondidos no armário", lembra Lucira.

"Ele parecia uma criança e as sobrinhas nunca queriam ir embora", recorda a esposa Leilian. Riva era casado há vinte e cinco anos com a amapaense Leilian. O casal foi abençoado com o nascimento de Angelus, cujo nome Rivaldo escolheu com carinho. O filho, que completou 24 anos em 2021, é muito parecido com o pai, "não só na aparência, mas especialmente pelo interesse em tecnologia", diz a esposa.

Rivaldo era gerente da área de Tecnologia da Informação e exímio conhecedor do assunto; por isso fez questão de montar um computador para todas as crianças da família, sem exceção. Queria que os sobrinhos e filhos de primos, principalmente os que não tinham condições financeiras, tivessem a mesma oportunidade que o seu filho e iniciassem cedo o contato com o mundo virtual.

Ele amava viajar para visitar a família. Dividia as férias entre Minas e o Amapá. Certa vez, proporcionou ao tio Maurinho e à tia Solange uma viagem inesquecível a Salvador; o passeio estendeu-se por uma semana, e foi feito juntamente com sua esposa e seu filho. Foi a primeira vez que os tios "andaram" de avião. Riva sentiu-se muito orgulhoso por ter proporcionado ao tio essa experiência como presente de aniversário. Ele nunca esqueceu a viagem. E nem o tio Maurinho, que não se cansava de contar a todos, várias vezes, sobre o sonho realizado. Quando tio Maurinho faleceu, Rivaldo abraçou o luto contando boas e várias histórias engraçadas sobre ele, tirando risos dentre as lágrimas dos familiares.

Dono de um coração gigante, tratava a todos da mesma forma e não guardava rancor. No final de 2020, Riva foi procurado e localizado, por meio da internet, pela irmã mais nova, com quem teve pouco contato, há muitos anos, quando ela era apenas uma criança. De pronto, enviou-lhe, como presente de aniversário, um vídeo carinhoso com promessas de um encontro para que ela conhecesse toda a família.

Proativo, ser útil era essencial e urgente. Rivaldo estava sempre com a mente inquieta e as mãos ocupadas. Lia muito, e não desistia de pesquisar quando se tratava de resolver algum desafio. "Sua maior qualidade era a dedicação ao trabalho; seu maior defeito, exercê-lo em excesso", relata a esposa Leilian.

"Muito responsável, Rivaldo era sério e exigente com seus subordinados. No início, as pessoas tinham até medo dele, mas, depois que conheciam seu enorme coração, viam que sua postura era sempre para ajudar e fazer com que todos pudessem crescer e melhorar", conta Leilian. A esposa relata que as conquistas de Rivaldo foram alcançadas com muito esforço e dedicação. "Nada foi fácil, a não ser a vontade de estar sempre disposto a aprender e reinventar-se, quando necessário".

Há dez anos construiu a casa dos seus sonhos, com uma cozinha externa para receber a família. Seu programa preferido era estar com os seus e todos amavam estar perto dele. Dono absoluto da churrasqueira, Rivaldo gostava de "assar uma boa carne" para reunir a família. Seus dotes culinários também incluíam uma feijoada de frutos do mar maravilhosa, "Era sua especialidade", conta a esposa. Pessoa muito simples, Riva apreciava experimentar novas comidas e conhecer outros costumes. Suas únicas objeções eram o cupuaçu e a batata baroa.

Rivaldo também era responsável pela animação no karaokê. Era eclético e se permitia cantar de rock a MPB, incluindo até mesmo um samba de raiz. "As músicas da Legião Urbana eram as que mais disputávamos", lembra Leilian com saudade. Rubro-negro de carteirinha, adorava zoar os amigos torcedores dos times adversários. "A hora 'voava' ao lado de Riva, ele estava sempre disponível e envolvido para uma conversa ou para fazer algo por alguém", lembra a irmã Lucira.

Sua relação com Duque, seu fiel companheiro é uma história de encontro de almas. A esposa relata que Riva queria um cachorro grande, que não fosse dengoso, para vigiar a cozinha externa e acabar com a farra dos gatos na garagem. Duque apareceu pela manhã, só pele e osso, quando Rivaldo havia saído de casa em viagem a Petrópolis. O cão lá ficou, com os olhos arregalados no portão, até o final da tarde. "Parecia que estava esperando o Riva chegar", diz Leilian. A esposa conta que quando Rivaldo retornou para casa e viu o cachorro pela primeira vez, ele o olhou e perguntou: "Você é um cachorro manhoso? Porque se for, eu não quero não". E disse isso já abrindo o portão. O cão entrou e de lá nunca mais saiu. Foi adotado com todo amor. A aparência maltratada, suja e triste do vira-lata logo se modificou com tanto amor, carinho e cuidados que recebeu. Riva fazia questão de levá-lo ao veterinário. "Cuidava de Duque como se fosse um filho. Aliás, era assim que ele o chamava" — lembra Leilian. Duque tinha medo de chuva e tempestade e a cena que volta à memória da esposa é a de Riva sentado ao lado do cachorro, na beira do portão, para conversar e acalmar seu fiel companheiro.

É unanimidade entre a família e amigos que a maior característica aparente de Rivaldo era o sorriso. "Todos se sentiam acolhidos pelo seu sorriso. Tinha sempre um conselho, uma palavra de incentivo. Fazia todo mundo se sentir especial de alguma forma". Essas são as palavras da irmã Lucira.

Ser prestativo, acolher e ajudar eram a marca de sua personalidade solícita e generosa; esse era o Riva.

Rivaldo nasceu em São João Nepomuceno (MG) e faleceu em Niterói (RJ), aos 50 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Rivaldo, Leilian de Oliveira Bezerra Soares. Este tributo foi apurado por Danielle Lorencini Gazoni Rangel , editado por Danielle Lorencini Gazoni Rangel, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Danielle Lorencini Gazoni Rangel em 9 de novembro de 2021.