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Ronildo Magalhães José

1964 - 2020

Sua presença permanece viva... nas cifras musicais guardadas no baú de papelão e na melodia de músicas da MPB.

Homenagem de Luiz Felipe a seu amado pai:

Não pudemos nos reunir para prestar a última homenagem ao meu pai; perdemos o direito à elaboração do luto. Só agora, ao não poder fazer um funeral, é que consigo perceber a importância desse evento. A importância de estar junto daqueles que conheceram e também amaram aquele ente querido que você perdeu. Homenagear alguém que partiu é também celebrar sua vida, celebrar as lembranças que foram construídas.

Por isso escrevo esse tributo: quero aqui celebrar as lembranças que tenho de Tio Ronildo. Não consigo olhar para minha infância sem lembrar dele. Ele estava lá em praticamente todos os eventos. Olha só, antes mesmo de viajar com meus pais, foi com Tio Ronildo que vi o mar pela primeira vez! Quantas festas de Natal, de Ano Novo, quantos churrascos improvisados no tijolo na casa dos meus pais. A festa de aniversário de 1 ano do meu irmão (que aliás é afilhado de Tio Ronildo), a final da Copa do Mundo de 1998. E ele sempre lá! E com ele seu violão.

Tio Ronildo, para mim, lembra música. “Saigon” e “Se” são as músicas que trazem as mais concretas lembranças dele. Não sei se eram as que ele mais tocava, mas são essas que mais me fazem lembrar dele. Lembro dele dirigindo e cantando “Se” enquanto voltávamos da casa da Vó Darci. Lembro de um “baú” redondo, com tampa, de papelão, cheio de revistas de cifras de música. Lembro de revirar esse baú procurando revistas com letras do Legião Urbana para copiar. Lembro dele tocando violão na casa de Vó Darci, na casa dos meus pais.

Tem tantas outras lembranças... sair para comer pizza em Sabará e jogar “porrinha” com palito quebrado, ir para a Serra da Piedade, para Serra do Caraça, Carnaval em Conceição do Formoso. A cidade de João Monlevade, para mim, tem a cara dele e da família dele. Tio Ronildo não era meu tio de sangue, ele foi casado com minha tia Luzia, irmã da minha mãe, mas isso pouco importa, pois o amor era o mesmo. Os irmãos de Tio Ronildo costumavam se encontrar um Natal sim e um não na casa da Vó (Dona) Noemi, e eu, lá com eles. Conheci todos os irmãos dele e os primos do meu primo Luiz Felipe.

Lembro do quanto ele gostava de doce e de um natal que fizemos uma pegadinha, dizendo que ele teria um pudim exclusivo, mas o pudim era do tamanho de uma forminha de empadinha! São tantas, tantas lembranças…

Havia anos que eu não o via, acho que depois que ele e minha tia se separaram o vi apenas uma vez. E agora ele se foi e nem pude me despedir. Mas o faço aqui.

Vá em paz tio. Sei que sempre que eu voltar às minhas lembranças vou te encontrar lá, tocando violão ou comendo pudim. Dê um beijo na vó Noemi por mim.

Testemunho dado pela sobrinha Ingrid Martins Coura.

Ronildo nasceu em João Monlevade (MG) e faleceu em Santa Bárbara (MG), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho e pela sobrinha de Ronildo, Luiz Felipe de Freitas Magalhães e Ingrid Martins Coura. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 23 de maio de 2022.