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Rosalina Borges Ferreira

1933 - 2020

Sempre que a bola dos filhos caía na casa do Seu Cunha, ia pessoalmente e só saía de lá com a bola em mãos.

Dona Rosalina foi uma esposa companheira, uma mãe protetora e uma avó incentivadora, sempre preocupada com o futuro de seus queridos familiares. Tão o era, que foi carinhosamente apelidada por sua família como Senhora do destino.

Sua vida não foi das mais fáceis. Quando mulheres tinham grandes dificuldades para estabelecer um negócio próprio em São Luís, Rosalina foi uma empresária de vanguarda.

Tinha uma visão social apurada e chamava atenção pelo empreendedorismo, pelo espírito de liderança e pelo olhar visionário.

Sensível às artes, incentivava jovens artistas nos seus projetos culturas. Ela tinha o dom de captar o melhor de cada um.

Junto com Manoel, comandou uma rede de supermercados. Mas o contato humano era sua paixão e, por isso, cuidava do setor de Recursos Humanos da empresa.

Sempre que via algum candidato acompanhado nas entrevistas, já dizia sem papas na língua: “Por que você veio com sua mãe? Pedir emprego e ir ao banheiro são coisas que você deve fazer sozinha. Você quer um emprego? Então, peça”.

Rosa era desse modo em suas falas: direta e objetiva, com observações temperadas de humor, mesmo que fossem para manifestar contrariedade.

Com seis filhos - Afonso Henriques, Afonso Manoel, Afonso Domingos, Maria Olívia, Maria de Fátima e Maria Teresa, além dos doze netos, doze bisnetos e muitos afilhados, tinha a casa sempre cheia. Que delícia era!

Todo sábado, das 8 ao meio-dia, os meninos - filhos de Rosa e seus amigos - jogavam futebol espremidinhos perto da lavanderia. A "quadra" era pequena: jogavam três contra três.

Sempre firme, já perto do meio-dia, dizia: “Todo mundo pra sua casa porque eu já tenho 6 aqui pra criar não quero que a mãe de vocês ache que vou adotar algum”. Tinha muito carinho por trás daquelas palavras firmes.

Mas fazia de tudo pelos filhos. Sempre que a bola caía na casa do Seu Cunha, ia pessoalmente na porta do sobrado e só saía de lá com a bola em mãos.

Ela era assim: um coração quente de carinho debaixo de palavras firmes. “Você é um anjo de candura, coração de rapadura” era sua forma de agradecer a quem fosse.

Partiu no dia que, entre todos, mais a representava: no dia das mães.

Seu carinho maternal por todos era extraordinário. E, na sua partida, Deus pôde revelar o quanto ela era especial, afinal mesmo uma mãe incansável precisa de descanso.

O desejo era a força-motriz de sua vida e o seu último era reencontrar seu companheiro de vida. Agora, com seu Manoel, lá do céu, olha com orgulho por sua família.

"Vá em paz, vovó Rosa!", despede-se Renata.

Rosalina nasceu em São Luís (MA) e faleceu em São Luís (MA), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Rosalina. Este tributo foi apurado por Isabella Pugliese Vellani, editado por Mariana Coelho, revisado por Monelise Vilela e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2020.