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Salvador da Silva

1950 - 2020

Mudou de emprego para conquistar a cobradora do ônibus por quem se apaixonou à primeira vista.

"Tá sabendo? Sou motorista!", dizia Sodinho. Essa era a frase preferida de Salvador, como conta a filha Ana Gabriela. E foi em um ônibus que ele conheceu o amor de sua vida: Maria Edjane. A moça trabalhava como cobradora. A paixão instantânea o fez pedir emprego na empresa de transporte público. Insistiu até conseguir e largou a profissão de caminhoneiro. Depois que assumiu o posto de motorista daquele ônibus, não demorou para conquistar a mulher com quem foi casado por vinte e dois anos.

Até engravidar de Gabriela, o casal trabalhava junto. O nascimento do fruto desse amor só os separava no horário de trabalho, pois nos outros momentos eles estavam sempre na companhia um do outro. O respeito e amor marcou o casamento deles.

A relação com a filha também era de companheirismo. Amavam tomar café na feira. Inventaram uma espécie de "Qual é a música?": quando escutavam rádio, se desafiavam a descobrir quem era o cantor da música da vez. Pai e filha também desfrutavam de bons momentos assistindo Sílvio Santos. Salvador teve outros três filhos, de seu primeiro casamento; "mas eu era o grude dele, foi o melhor pai que eu poderia ter", declara Ana Gabriela.

Salvador e os irmãos eram muito unidos, sempre se reuniam para jantar e almoçar. Eles ficaram órfãos cedo, Salvador tinha apenas 9 anos. Depois dessa perda passaram por dificuldades; assim, Sodinho, aos 12 anos começou a trabalhar como babá. Sempre comentava que a melhor parte daquele trabalho era a comida, que era escassa em casa. Embora triviais, os pratos tinham um sabor incrível para ele.

Acreditava em Nossa Senhora de Aparecida de corpo e alma. Também trazia a solidariedade como uma de suas marcas — gostava de ajudar o próximo. Tudo que fez durante a vida foi suficiente para eternizá-lo. Sodinho amou e foi amado sem medidas. Vive em cada um dos seus.

Salvador nasceu em Presidente Prudente (SP) e faleceu em Presidente Prudente (SP), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Salvador, Ana Gabriela da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 21 de fevereiro de 2022.