1975 - 2021
Fazia bolos preparados com cuidado e carinho que remetiam às melhores memórias de infância.
Sandra foi adotada aos 6 anos pelo casal Kalil e Maria Eliana. Eles foram pais também de Vanessa, Aline e Sthefanie. A caçula era 16 anos mais nova do que ela, por isso Sandra tornou-se uma “irmãe” — nas palavras dela. Cuidou da pequena desde que ela nasceu, porque a mãe precisava trabalhar. Como irmã mais velha, deu-lhe suporte emocional, carinho, atenção, diversão e amor.
Ela se casou e se divorciou duas vezes. Teve dois lindos filhos, frutos do primeiro casamento: Leonardo e Gabriel, a quem amava mais do que tudo no mundo, para quem fazia de tudo e por quem lutou até o fim.
Sandra ficava linda quando se vestia de branco, realçando seus lindos cabelos pretos, lisos e sedosos. Era muito cheirosa, amava música gospel, seu abraço e seu colo estavam sempre disponíveis para todos ao se redor.
Ela foi empregada doméstica durante muitos anos, depois exerceu tarefas em um negócio de família. Trabalhar na cozinha não era sua profissão, mas era uma cozinheira primorosa; fazia o melhor bolo simples de todos. Sthefanie explica o porquê: “O que faz o bolo simples dela ser o melhor para mim é porque ele representa as memórias mais bonitas que eu tenho dela, representa o cuidado que ela sempre teve comigo, com a família e com os filhos. Considero esse sabor único e inesquecível, pois se trata de uma analogia às lembranças da minha infância, tempo precioso que passei ao lado dela”.
E continua contando: “Nós sempre nos divertíamos quando crianças. Ouvíamos as músicas de discoteca em inglês que tocavam nas rádios e cantávamos de forma engraçada, toda errada. Talvez por isso eu seja professora de inglês hoje! Além disso, éramos cúmplices. Eu escondia que ela fumava e ela me livrava das enrascadas de criança. Certa vez eu quebrei um enfeite de porcelana, caí em cima dele e cortei o antebraço direito inteiro. Ela me encobriu e o corte gigantesco fechou, sem que tivesse que dar ponto, e minha mãe descobriu só depois. Enfim... Todos comentam que nós duas éramos terríveis e muito unidas”.
Suas marcas registradas eram a fé inabalável, a simplicidade, a alegria e a capacidade de doação. Frequentava uma comunidade religiosa e tanto ali, como no ambiente familiar, emanava otimismo e uma energia capaz de neutralizar e dissipar qualquer tipo de preocupação. Com seu colo acolhedor, ela dizia: “Vai ficar tudo bem, coloque isso nas mãos de Jesus, Deus vai te abençoar!” Ela nunca foi pessimista. Depois que se entregou para a fé, e viveu e exerceu a sua religião, tornou-se uma servidora e semeadora da palavra de Deus.
Sandra foi o máximo que podia ser em todas as suas relações familiares. Uma filha, irmã, mãe e esposa amorosa, bondosa e presente, que ensinou generosidade, resiliência e amor ao próximo.
Sthefanie resume seu relato sobre ela dizendo: “Carinhosamente eu a chamava de Nana. Isso é muito importante para mim. E ela me chamava de Tetéia ou Téia. Não pude retribuir nem um décimo do amor que ela me deu e essa homenagem é uma forma de chegar até ela. Minha irmã permanecerá viva em nós para sempre, pois sua presença na Terra foi marcada pelas suas obras de generosidade, caridade e disseminação da paz”.
Sandra nasceu em Avaré (SP) e faleceu em Avaré (SP), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela irmã de Sandra, Sthefanie Kalil Kairallah. Este tributo foi apurado por Irion Martins, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 19 de março de 2022.