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Santino Gomes

1938 - 2021

Foi pioneiro na fabricação de panelas em Francisco Beltrão.

Alegre e modesto, nunca deixou que soubessem sua idade nos bailes. Dançava como ninguém, seu charme era bastante conhecido, e ele sabia que impressionava as pessoas. Seu Santino perguntava aos outros "Quantos anos você me dá?", sabendo que era uma alma jovem e orgulhando-se disso. A neta que o acompanhava também se orgulhava!

Era adepto da homeopatia e nunca deixava algum problema de saúde sem solução: em um caderno, guardava uma cura para cada mal. Tinha suas próprias técnicas mirabolantes e acreditava fielmente nos hábitos que criava para uma vida saudável. Ademais, vivia para a família e criou uma tradição no almoço de domingo como forma de zelo com as netas: era o dia oficial de comer melancia no gramado com o vovô!

Encontrava graça onde muitos não percebiam; no fundo, era ele quem dava o tom da alegria. Até mesmo as situações frustrantes que lhe aconteciam rendiam causos e risos: o implante de cabelo, por exemplo, havia ficado tão feio que ele achou melhor tirar antes mesmo que alguém visse. Ria de si, de suas próprias histórias. Tinha humor diante da vida, e seu jeito de ser era um reflexo da forma como encarava o mundo: com humor, otimismo e determinação.

Valorizava o incrível plano da operadora - afinal, não é todo mundo que tem 500 minutos para falar ao telefone, certo?

Decidido, foi até o prefeito de sua cidade reivindicar sacolas no comércio - afinal, "a população precisava comprar sacolas do mesmo jeito para colocar o lixo", não é mesmo?

Firme em suas ideologias, entregou uma cópia para cada membro da família sobre as benfeitorias de um governante - afinal, vai que eles ainda não soubessem?

Sincero e destemido, Seu Santino poderia passar meses sem ver alguém, mas, quando o encontrasse, diria o quanto emagreceu ou engordou nesse tempo.

Possuía um dom para a escrita. Era bom, mesmo, e sabia que as palavras também conquistavam corações: enviou inúmeras cartas para a esposa em sua juventude.

Foi pioneiro na fabricação de panelas em sua cidade e viveu dividindo seu tempo entre administrar as casas que construía e ajudar em um comércio local que já fora seu.

Seu Santino foi um trabalhador que viveu uma vida simples e que tinha como maior sonho a realização dos sonhos dos seus: que seus filhos fossem felizes e ficassem bem.

Santino nasceu em Cruz Machado (PR) e faleceu em Porto União (SC), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Santino, Poliana Gomes Goslar. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Marina Garcia Lara, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 22 de agosto de 2021.