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Sebastião Couto Barbosa

1945 - 2021

Avançava noite adentro jogando buraco com a família, e amanhecia antes do sol para ir pescar com a turma de amigos.

Mesmo depois de aposentado, ele era conhecido como o “Tião da Light”, em referência à empresa de energia elétrica onde trabalhou durante muitos anos como servidor municipal da cidade fluminense de Rio Claro. Segundo a prima, Paula, ele era muito dedicado e “sempre se esforçava para ajudar as pessoas, mesmo fora do horário de trabalho”.

Sebastião era casado com Elza, pai da Renata, do Reginaldo e da Rejane, e avô de quatro netos. Paula conta que ele sempre lidou com toda a família e as pessoas à sua volta com muito carinho e afeto. “Nunca vi o Tião bravo!”

Na família ele era o “Gaivota” — apelido que recebeu do pai de Paula, quando filmou Tião na praia correndo na ponta dos pés em direção a água, com os braços abertos. "Ao fundo havia várias gaivotas, então meu pai gritou pra ele: 'Voa, gaivota!'”, lembra Paula com alegria.

Ele gostava de pescar e de jogar baralho com a família. No jogo, Tião era concentrado e sério. “Quantas foram as madrugadas jogando buraco e quantas não foram as vezes em que acordou antes do sol nascer para pescar”, lembra a prima. E, como todo pescador, não podia faltar uma história. "Uma vez, uma onça revirou o acampamento do grupo enquanto eles pescavam em uma ilha e devorou toda a comida. Mas ninguém viu a onça, apenas as pegadas."

Devoto de Nossa Senhora Aparecida, Tião pregava os ensinamentos de Deus por meio de palavras e atitudes. Em sua paróquia, ele compartilhou um problema de saúde que o deixou imobilizado e com muita dor; à época, não havia tantos recursos científicos para intervenção e recuperação. Então, um dia, na igreja, ele se ajoelhou, rezou e pediu a cura. “Ele saiu de lá andando, sem dor, e dizia que naquele dia havia sido atingido pela graça de Deus”, relata Paula que se emociona ao recordar a cena do primo rezando ajoelhado ou lavando os pés das pessoas na Missa de Lava-pés: “Era uma das coisas mais lindas de se ver, porque era muita devoção”.

Com a convicção de que um dia irão se encontrar, a prima finaliza essa homenagem com a lembrança do sorriso alegre e sincero de Tião: “Seus olhos cerraram-se diante da vida, mas seu amor vive em nós”.

Voa, Gaivota!

Sebastião nasceu em Barra Mansa (RJ) e faleceu em Rio Claro (RJ), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela prima de Sebastião, Paula Pegas Bittencourt. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Denise Stefanoni, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 21 de setembro de 2021.