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Sebastião Rodrigues Sales

1949 - 2020

Um cabra cheio de histórias, um coração cheio de amores...

Sobre Sebastião, nos conta seu neto Paulo:

"Há muito tempo, um homem negro com seu bigode bem marcado fazia visitas frequentes à casa em que eu vivia com meus pais.

Ele carregava em sua bicicleta tipo cargueiro acerolas, graviolas e até raros cocos amarelos para nos presentear. Ora a presença dele era relacionada a esses presentes, uma troca de carinho; ora ele estava ali para ajudar em alguma reforma da casa.

Aquele homem negro forte carregava também sua história e muitas delas em diversas conexões com a casa que eu habitava. Por um tempo, um bom tempo, os caminhos da sua bicicleta não foram mais destinados para a casa. E a casa dos meus pais também não era mais o lugar que eu habitava.

Quis o tempo que em outro momento aquele homem e eu nos cruzássemos novamente. Já não tão forte, ele já não andava de bicicleta, e agora ele precisava de presentes saudáveis. Também as minhas histórias é que passavam a ser contadas.

Aquele homem me escutou e confessou que era mentiroso (muitas vezes) e então com olhos marejados assumiu que não era um homem forte e que seu bigode já não aparecia em seu rosto mais marcado, porque os tempos haviam mudado.

Aquele homem se foi e não sei mais quanto o tempo vai fazer pra gente voltar a se encontrar. Mas certamente vai ser a vez dele me contar novas histórias (talvez mentiras). Espero que eu esteja forte como ele quando pedalava até a casa dos meus pais."

Sebastião nasceu em Pentecoste (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo neto de Sebastião, Paulo Sampaio. Este tributo foi apurado por voluntário, editado por Julio Casimiro, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Julio Casimiro em 8 de julho de 2020.