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Severino Pedro da Silva

1959 - 2020

Resiliente, abria portas para a superação.

No coração de Severino pulsavam paixões. Aquele amor primeiro era pelo time do coração, o Fluminense. O escritor e também tricolor Nelson Rodrigues disse que o amor pelo Fluminense vem antes de qualquer coisa, vem de antes do útero da mãe.

O segundo amor era pelo forró. As noites festivas na Paraíba fizeram de Severino um amante boêmio. Quando o paraibano decidiu sair de sua terra natal e foi para o Rio de Janeiro, todos diziam: “ah, foi atraído pela boemia da noite carioca”; na verdade, Severino queria ver o time do coração jogar em casa.

Morando no Rio, ele casou mais de uma vez. Dividir seu coração entre o Fluminense e a beleza feminina das cariocas não era difícil. Era algo no sotaque delas, na face bronzeada, no cheiro de mar e ainda na companhia boêmia que o atraía. Depois de 25 anos de vida carioca, voltou para o Nordeste. Deixou, na cidade maravilhosa, o Fluminense, as cariocas e quatro filhos.

Veio trabalhar como porteiro na capital alagoana, onde estava o carinho e os cuidado dos parentes. Era um homem apegado à família, como disse seu sobrinho, lembrando as viagens entre Alagoas e Paraíba com o tio para encontrar o “refúgio”.

O maior ensinamento de Severino foi sobre a importância de se apegar à família em momentos de dificuldade.

Agora, esse porteiro tricolor vai abrir as portas da consciência, ensinar a superar obstáculos, se curar de problemas com determinação. Nelson Rodrigues escreveu: “O Flamengo tem mais torcida, o Fluminense tem mais gente”. Certamente, caro Nelson. Severino Pedro da Silva era GENTE, bastante.

Severino nasceu na Paraíba e faleceu em Maceió (AL), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo sobrinho de Severino, Nelson Vieira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ulisses Abílio, integro o Projeto de Extensão da Universidade Federal de Alagoas, revisado por Luiza Carvalho e moderado por Rayane Urani em 8 de junho de 2020.