1943 - 2021
Nunca deixou a tristeza tomar conta de sua vida; pelo contrário, era sempre sorridente e amorosa.
Dona Sidelcina foi uma mulher guerreira. Em 1971, deixou a Bahia juntamente com seu esposo, rumo à cidade de Ji-Paraná para buscar melhores oportunidades de vida. Ele, no entanto, faleceu, deixando-a com cinco filhos pequenos, sendo um deles ainda bebê.
Mas engana-se quem pensa que ela desistiu de tudo. Forte, percebendo-se sozinha com a responsabilidade de sustentar seus filhos, começou a trabalhar como lavadeira. Dessa forma garantiu que as crianças tivessem tudo que precisassem. Nunca deixou a tristeza tomar conta de sua vida; pelo contrário, era sempre sorridente e amorosa com todos a sua volta.
Em 1974 conheceu o pai do seu sexto filho. Juntos compraram uma casa na rua Fernandão. No entanto, pouco tempo depois, ele a abandonou com o filho pequeno. Mais uma vez, Dona Sidelcina, voltou à condição de única responsável pelo sustento da casa.
Se por um lado os recursos financeiros foram escassos, sempre transbordou amor e exemplos de dignidade para sua prole. A verdade é que ela sempre fez de tudo para criá-los no caminho do bem. Ainda que ela não tivesse tido a oportunidade de acesso à educação formal, sempre os incentivou a estudar.
Muito ativa e trabalhadora, empenhou sua vida a ser uma mãe dedicada, vizinha prestativa e cidadã exemplar.
Fazia suas vendas de água mineral para ter uma renda extra. Aposentada, sempre manteve as contas em dia e ainda guardava um dinheirinho para o caso de uma emergência. Mesmo já com a idade avançada, nunca deixou de fazer suas atividades - trabalhava, limpava sua casa e cuidava de sua pequena criação de galinhas. Ela continuou a lavar roupa pra fora, mesmo que seu sustento não mais dependesse disso; fazia por amor e prazer - "nunca conheci alguém que lavasse e passasse roupa tão bem quanto ela", relembra a neta Vyviane.
Era apaixonada por plantas e mantinha seu quintal repleto de flores. Aos 78 anos, caminhava três vezes por semana, pois sabia a importância de praticar uma atividade física. Amava fazer isso e sentia-se muito bem.
A partida de Dona Sidelcina e a consequente ausência de sua alegria, carinho e dedicação em cuidar de todos ao seu redor deixou um grande vazio. "Ainda me recordo da voz dela me pedindo para que eu me cuidasse e comesse porque estava muito magra", conta a saudosa neta.
A rua Fernandão nunca mais será a mesma. Seu cuidado com cada vizinho ficou marcado na vida de todos os moradores de lá. Dona Sidelcina foi uma mulher sábia, que deixou um legado de amor, cuidado ao próximo, dedicação à família e persistência em nunca desistir. Foi uma mãe em sua forma mais doce - cuidou de seus filhos e dos filhos de mães falecidas - foi avó na sua forma mais intensa de amar, dedicando-se tanto aos netos legítimos como aos acolhidos.
Sidelcina nasceu em Itaberaba (BA) e faleceu em Cacoal (RO), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela neta de Sidelcina, Vyviane Alves da Silva. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Ana Helena Alves Franco, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2021.