1971 - 2021
Era tão dócil e brincalhão, que até tentava, mas não conseguia ser duro com os filhos.
Silvan tinha uma sensibilidade única, daquelas que só os artistas tem. A palavra era sua companhia; dela se apropriava respeitosamente para desenhar o que via e as coisas que sentia; na poesia, na prosa e no canto, ele contava histórias de fazer rir e de ninar, e quando as palavras lhe faltavam, o corpo falava embalado pelo ritmo da música. Assim era o Silvan: poeta, amigo, conselheiro, dançarino e escritor, lembra sua companheira Sara.
O Silvan teve uma infância feliz, cercado de muito amor. Suas lembranças de meninice eram doces, como as corridas de bicicleta que fazia em companhia do pai, seu Raimundo; das peripécias com os irmãos Solano, Raimundo, Solânea, Silvânia e Solenilda; a memória afetiva do tacacá e do bolo de macaxeira, comidas típicas da sua região, que a mãe preparava e que sempre o remetia à lembrança dela.
Ele começou a trabalhar muito cedo para suprir suas necessidades e ainda jovem, participou com alguns amigos de um grupo de dança, que rodou as principais baladas da sua cidade - Santarém - no Pará, agitando e contagiando o público com as coreografias que executava. Quando dançava, ele se conectava com a música, sua outra paixão; era como se fosse a estrela naquele momento e se sentia livre.
Com pouco mais de 20 anos foi para Manaus em busca de uma vida melhor; aos 25 ele foi aprovado em 1° lugar em um concurso público para o cargo de Eletricista, no extinto IMPAS, hoje (SEMSA e Manaus Previdência). Ele amava seu ofício.
O Silvan estava sempre de bem com a vida e tinha a habilidade de transformar tudo que lhe acontecia em algo positivo, pois o bom humor era a sua marca registrada. Suas piadas super engraçadas eram garantia de gargalhada: fazia imitações, paródias, escrevia em versos e prosa, e fazia questão de compartilhar com todos. Assim, a vida se tornava mais leve.
Ele escrevia sobre tudo: pensamentos, a vida, suas memórias de infância; fazia questão de dizer que cresceu ao lado de grandes mulheres, com as quais aprendeu muito, e a rainha era sua Mãe, de quem sentia muita falta.
Alguns desses escritos publicava em suas redes sociais; outros, guardava só para ele.
Sua história com a Sara daria um Romance, mas ele preferiu a poesia, e escreveu um livro dedicado a ela, que falava da relação que construíram juntos. Ele e a Sara se conheceram no curso de pedagogia da UFAM e se tornaram amigos, depois namorados, e após um ano de relacionamento resolveram morar juntos; e a história deles foi bonita.
“Algo que foi parte da minha vida que eu lembro com carinho muito grande e com uma saudade também...”
O Silvan era um cara brincalhão, um parceiro que topava tudo e a relação dos dois era bem legal, leve. Compartilhava com ela seu amor pela arte, sempre muito presente na vida dele, como da vez que compuseram uma paródia da música Aquarela, de Toquinho, para um trabalho da faculdade sobre o Parque Cidade da Criança, um dos pontos turísticos de Manaus.
Era um marido dedicado e um amigo leal. Sempre disposto a ajudar, gostava de estar junto das pessoas com quem se importava. Foi um pai presente, que não media esforços para ajudar os filhos em tudo. Ele até tentava dar uma de pai sério, durão, mas não conseguia brigar; era um brincalhão e sempre que possível ele e a Sara faziam passeios com eles. Um dos destinos preferidos era a praia. Seus filhos, a quem chamava de "crianças", não importando a idade, eram seus amores, assim como os netos: amava-os e tinha prazer em estar com eles.
A docência era outra de suas paixões. Vinha de uma família de professores e professoras, como a mãe, e sua facilidade de se relacionar com crianças e habilidades artísticas o aproximavam da profissão de educador: ele se dedicava bastante aos trabalhos da faculdade e sempre que havia atividades práticas na escola, participava de forma apaixonada: gostava de estar lá, de conversar com as crianças, fazer brincadeiras, se fantasiava e chegou a realizar uma ação social com pequenos venezuelanos.
Silvan era muito querido pelos colegas de trabalho: amava cozinhar e levava comidinhas para o café com eles, como o cuscuz doce que preparava com muito prazer. Sensível aos problemas dos outros, tinha empatia e plantou amor e carinho nos corações de todos aqueles que conviveram com ele.
“Era um homem carinhoso, romântico, apaixonado, de bom coração, e ajudava quem podia. Silvan estará para sempre presente em nossa memória e vivo em nossos corações.”
O Silvan deixa a esposa, os filhos Junior, Jean, Ian e Silvana, os netos Maysa e Ícaro; deixa os irmãos, amigos e deixa o mundo daqueles que o conheceram, menos colorido. Ele deixa saudade!
Silvan nasceu em Santarém (PA) e faleceu no Recife (PE), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela companheira de Silvan, Sara de Oliveira Rodrigues. Este tributo foi apurado por Ana Laura Menegat de Azevedo , editado por Rosa Osana, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 17 de agosto de 2021.