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Silvio da Costa Cazeiro

1950 - 2021

Tinha por hábito escutar as canções de Johnny Rivers e músicas da Jovem Guarda, enquanto dirigia.

Com seu jeito solícito, Silvio sempre procurava um modo de ser útil aos outros. Para ele, nada era problema. Fosse nas atribulações mais pesadas ou nas gentilezas cotidianas em seu entorno, nunca reclamava de nada, nem se gabava do bem que fazia.

Na juventude, por meio de amigos em comum, Silvio conheceu Mathilde, o amor de sua vida. O rapaz nascido na capital logo se encantou pela moça recém-chegada de Cafelândia, no interior paulista. Começaram a namorar, se casaram e por cinquenta e dois anos viveram uma bonita e duradoura união. Os dois não se desgrudavam, faziam tudo juntos, como se um fosse o encaixe do outro.

Do amor entre os dois vieram Adriana, Silvio Júnior e o caçula, Antônio Marcos. Silvio empenhava-se para que nada faltasse aos filhos e, sobretudo, fazia-se presente, afetuoso, e lhes ensinava valores como honestidade e respeito com os outros. Adriana se recorda com muito carinho de uma lembrança vivida ao lado do pai: "Certa vez, por volta dos meus 5 anos, um caminhão passou na rua em que morávamos anunciando que um circo chegaria ao bairro. Então, rapidamente, meu pai me pegou no colo e correu até o portão de casa para que eu pudesse acompanhar àquela divulgação repleta de música, cor e alegria. Os olhos do meu pai se iluminaram ao presenciar o meu fascínio por tudo aquilo!"

Os filhos o enxergavam como um grande herói, que se mantinha a postos, fizesse chuva ou sol, para auxiliá-los em quaisquer circunstâncias: estava sempre preocupado com todos. Quando surgia algum problema, era ele quem sempre tomava à frente para rapidamente resolvê-los. Definitivamente, Silvio era a base e o abrigo de sua família.

A relação com os netos, Matheus, Guilherme e Leonardo não era diferente. Para ele, nada tinha mais valor do que a felicidade dos netos — fazia todo o possível para agradá-los. "Meu pai era filho de português. Apesar disso, nunca havia pensado em ter cidadania portuguesa. Então, Matheus, seu neto mais velho, pediu para que o avô iniciasse seu processo de cidadania, para que os filhos e netos pudessem usufruir desse direito. Sem pestanejar, meu pai fez questão de tirar o documento para ver o neto contente", conta Adriana. Depois de sua partida, a família Cazeiro foi presenteada com a vinda de Maya, primeira bisneta de Silvio, que com toda a certeza, o desmancharia de amor.

Silvio aguardava ansiosamente pelos encontros familiares que aconteciam sempre em aniversários e datas comemorativas. Nessas ocasiões, não perdia a oportunidade de posar para fotos: bastava alguém chamar para uma fotografia, que ele aparecia em um piscar de olhos. Por ser muito sensível, não era raro também se emocionar pela alegria em ter todas as pessoas que ele amava por perto. Dotado de muita fé, ia constantemente à cidade paulista de Aparecida, para agradecer pelas bênçãos alcançadas em sua vida.

Como funcionário público da Prefeitura de São Paulo, Silvio dedicou-se com afinco ao trabalho. Entretanto, a aposentadoria foi um momento bastante celebrado por ele, já que poderia, então, realizar dois sonhos: passar mais tempo com sua família e investir em seu próprio negócio. Contando sempre com a companhia de sua esposa Mathilde, juntos abriram um restaurante e, posteriormente, um "trailer" para a comercialização de lanches: o cansaço do labor intenso não escondia o sorriso no rosto do casal pela oportunidade de trabalharem um ao lado do outro.

Dinâmico, desdobrava-se nos papéis de esposo, pai, avô e empreendedor. Para qualquer impasse cotidiano, ele logo ia pegando seu carro para rapidamente solucioná-los: enquanto dirigia era embalado pelas canções da Jovem Guarda e de Johnny Rivers, gravadas pelo neto Guilherme para que ele as escutasse ao volante. Com uma vida agitada, não abria mão de suas caminhadas duas vezes ao dia, momento em que fazia exercícios e respirava ar puro.

Entre as inúmeras fotografias, em que fazia questão de estar junto aos seus, se encontram sorrisos, histórias e recomposição dos dias felizes que Silvio viveu ao lado de quem mais amava. A saudade que bate forte no peito de sua família, também se fez aconchego ao relembrar o quanto cada gesto de ternura tido por ele, no correr dos dias, deixava a vida mais leve, mais aconchegante, mais bonita. Em cada foto, encontram-se laços indivisíveis que se perpetuarão por toda a eternidade!

Silvio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Guarulhos (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Silvio, Adriana Aparecida Rodrigues Cazeiro Julio. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Andressa Vieira, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 3 de abril de 2022.