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Solon Ferreira de Lucena

1936 - 2020

Pagava do próprio bolso as contas de energia elétrica de usuários inadimplentes.

Solon foi mesmo uma referência de generosidade para seus amigos, familiares e incontáveis desconhecidos para os quais dedicou sua vida, sempre a ajudar.

Flamenguista apaixonado, muitos jogos foram assistidos da sua inconfundível cadeira de balanço em frente à TV da sala. Um mobiliário singular que se tornou evocativo de boa lembrança e saudade. O amor pelo time carioca influenciou duas gerações da família.

Solon trabalhou por trinta e cinco anos na Companhia de Energia Estadual. Ele era o técnico responsável por diversas tarefas ligadas ao fornecimento, distribuição e consumo de energia elétrica aos moradores de Cabedelo, cidade 15 quilômetros distante, a nordeste de João Pessoa.

Muitas vezes, foi executar a tarefa de corte de energia elétrica na casa de algum morador inadimplente. Ao chegar ao local, entretanto, Solon compadecia-se; em vez de cortar a luz da residência, pagava as contas de energia elétrica em atraso da eventual família devedora. E foi pelas emergências que sanava na rede elétrica e por sua generosidade que as pessoas o chamavam de "homem da luz".

Um apelido que lhe faz justiça não apenas por ter sido Solon um eletricitário. Mas por possuir competências naturais de líder cuja autoridade e sabedoria ultrapassava as questões de ordem técnica ou prática. "Não havia urgência que Solon não resolvesse", diz Janaina, referindo-se ao respeito que ele conquistou ao fazer uso comedido e humano de seu poder de influenciar - e iluminar - a decisão daqueles que o procuravam pedindo alguma orientação ou apoio.

Solon foi jogador célebre de Biriba, jogo com dois baralhos completos. Ele chegou a ser campeão nessa modalidade de cartas em um torneio organizado em conhecida praça, no bairro onde morava.

Era "bom de boca" e apreciava "fast food", conta Janaina. Foi pai amável e avô atencioso. Liderava por seu carisma. Não se sabe bem ao certo o porquê, mas Solon chamava as pessoas de "cordão". Ele não as chamava por seus nomes próprios. Outra característica marcante desse paraibano é que ele gostava bastante de conversar.

Solon foi casado por seis décadas. Teve filhos, netos e bisnetos. "Vi um homem forte ficar frágil, um homem que cuidava ser cuidado, perder sua independência, mas jamais perdeu a doçura e o carinho." Conclui a nora Janaina, revelando impressões derradeiras e delicadas de seu amado sogro.

Solon nasceu em Itabaiana (PB) e faleceu em João Pessoa (PB), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela nora de Solon, Janaína Santos da Cunha. Este tributo foi apurado por Gabriel Rodrigues , editado por Ricardo Henrique Ferreira, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2021.