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Suely Majane Amaral Gomes Sousa

1965 - 2021

Agradecia a tudo na vida; se reclamava, sorria no final como se dissesse que tudo sempre ia ficar bem.

Suely foi uma mulher doce, humilde e lutadora, e que dedicou a vida à família: o marido, Edilardo, as filhas Magaly e Elisa, e a netinha Maria Clarice. As filhas eram seu orgulho.

Corretora de imóveis “seus olhos brilhavam a cada vídeo postado para fazer propaganda dos loteamentos”, conta a filha Elisa.

Suely ajudava a todos, de pessoas a gatinhos abandonados, em especial “Toim”, um gatinho siamês morador do Bloco E do condomínio onde morava. Cozinheira que recebia elogios, gostava de cozinhar ouvindo música.

Durante anos, vendeu marmitas para manter a casa. “Era uma cozinheira de mão cheia, nenhuma comida é tão gostosa como todas as que foram feitas por ela”, recorda a caçula.

Devota de Nossa Senhora, Suely tinha uma fé inabalável. O sorriso não saía do rosto jamais.

A seguir, o testemunho da filha:

“Mãezinha, queria contar que tô esperando meu primeiro bebê. Contarei para ele o quanto a avozinha dele foi uma grande mulher – mesmo que na estatura fosse minha tão pequena mãezinha. Queria abraçá-la e beijar novamente suas mãos tão maltratadas pelo trabalho; queria brincar chamando a senhora de 'meio metro' e eu, com meu 1,70 metro de altura, ficar do lado da senhora pra ouvir: ‘Meu Deus, em imaginar que saiu de dentro de mim’ e ver aquele sorriso lindo; queria chegar na cozinha, te encontrar e fazer uma brincadeira com as mãos dizendo: ‘ei, o que é que cabe aqui?’ E a senhora, que sabia que era o seu pescoço e que eu ia fazer cócegas, já começava a gargalhar e a escondê-lo sem eu nem ter chegado perto. Queria brincar dançando e fazendo caretas pra te ver rir; queria de novo segurar o rosto da senhora e lamber as lentes dos óculos pra ouvir ‘oh meninaaaa! Vem limpar’ e ainda assim, ver a senhora rindo de mim. Queria chegar com pizza em casa e a senhora dizer ‘ih, o negócio é a zabumba’, se referindo à barriga e indo pegar a faca, rindo: ‘tô nem aí, comer é booommm’.

Mãezinha, diariamente tentamos amenizar a saudade da senhora. Estamos aqui, procurando novos sentidos, mas ainda nas maiores alegrias, sua ausência dói. Magaly ainda faz os vídeos e espero que, se for possível, a senhora se encha de orgulho. Maria Clarice tá cada dia maior e um tanto teimosa, mas linda. É uma menina que nos dará muito orgulho. Sempre consagro a vida da nossa pequena a Deus.

Papai tá tentando, seguindo...

Eu também sigo, trabalhandoo, tô com um neném no forninho e seu genro, que mais parecia filho, me faz feliz, como a senhora me disse que ele faria. Ele me faz sorrir muito, como também fazia a senhora sorrir.

Saiba mãezinha, que eu queria ter tido só uma chance de tentar te ter aqui comigo. Não queria que as vacinas tivessem demorado tanto, queria ter tentado, como sempre tentamos, tantas coisas na vida.

Minha doce mãezinha, sinto uma falta absurda do seu olhar fraterno, do seu riso solto, da sua voz mansa e do seu colo quentinho. Sinto falta do seu carinho e de pedir ‘pega no meu pé?’. Sinto falta dos seus cabelos bagunçados e do seu cheiro. Sinto sua falta. Sua gargalha ecoa na minha memória e seu silêncio grita no meu peito. Dizem que ninguém é insubstituível, mas saiba, a senhora é. Com amor, sua caçula, Elisa.”

Suely nasceu em São Benedito (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Suely, Elisa Raquel Gomes de Sousa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 23 de dezembro de 2022.