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Suely Ramos de Cerqueira

1957 - 2021

Foi capaz de transformar seu amor em cura ao doar um rim para seu irmão.

Suely viveu sua infância na roça com a família onde trabalhava ajudando a mãe em todos os afazeres da casa. Quando adulta, mesmo morando na cidade, conservou o hábito de buscar a natureza como seu espaço de descanso, lazer e liberdade para ser feliz.

Desse tempo conservou também o amor às pescarias. Amava pescar com seu esposo e sua amiga Ceci, não importando o local. Fosse na fazenda de seu irmão Isaías ou nas represas das fazendas de amigos e conhecidos, o seu prazer era sempre o mesmo.

Essa paixão acabou por lhe render o apelido de “Limpa Poço”, atribuído carinhosamente pela família porque, conforme conta sua sobrinha Hianny, “ela não podia ver água que já pegava sua varinha para pescar”. Ela adorava peixe frito e sua pescaria só terminava quando ela mesma preparava os peixes — tarefa que não delegava a ninguém.

Ela amava seus irmãos, tinha ciúmes deles e os defendia a todo custo. Num gesto extremo de amor, doou um rim para seu irmão Atacyr, enfrentando meses de viagens para os exames necessários, e preparando-se para esse processo — que resultou bem-sucedido, com a cura dele e o fortalecimento de seus laços afetivos.

Casada, mãe de dois filhos e avó de três netos, Suely era muito ligada à família. Amava e cuidava de tudo e de todos e levou sua missão enquanto pôde. Em seus momentos finais, cuidada por uma sobrinha médica, pediu-lhe que olhasse por sua mãe, suas filhas, sua neta, pelas plantas e não se esqueceu nem de sua companheira Tunny, a cachorrinha trazida dos Estados Unidos pela filha caçula.

Ela cuidava muito bem de seu corpo e gostava das coisas sempre bem arrumadas, limpas e cheirosas. Dona de casa caprichosa e artesã, tinha mãos de fada para trabalhos manuais e decorava sua casa com as várias espécies de flores e plantas que cultivava.

Para a sobrinha, estar ao seu lado como médica, e poder ouvir com carinho seus pedidos finais, fez com que ela não se sentisse tão só nesse processo.

Refletindo sobre o movimento próprio da vida, da vida que segue, Hianny relata: “Quando ela descansou, recebemos a notícia da minha gravidez... acredito que meu filho veio para trazer mais vida e luz à nossa família, foi o agir de Deus em meio a tanto sofrimento”.

Suely nasceu em Alegre (ES) e faleceu em Ecoporanga (ES), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha e pela sobrinha de Suely, Neidimar Ramos e Hianny Felicio Oliveira Ramos. Este tributo foi apurado por Rafaella Moura Teixeira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de agosto de 2021.