1966 - 2021
Com seu imenso coração, era capaz até de construir uma casa da Barbie perfeitinha para sua neta, apenas olhando as instruções na Internet.
A maior parte da vida de Tânia foi na convivência de Ariosvaldo, o marido, e dos cinco filhos, Petterson, Gizele, Jhonathan Alvim, Thalia Eluar e Stephany Laura. A caçula é quem representa a família nesta homenagem.
Tânia cresceu junto de quatro irmãos. Na infância, as crianças enfrentaram a dificuldade da separação dos pais. Aos 13, ela conheceu aquele que seria o companheiro da vida inteira, Ariosvaldo, com quem conviveu por quarenta e dois anos e construiu a família. Quando Tânia tinha 16, eles se casaram. Aos 18, além da maioridade, chegou o primogênito. Depois, a família foi crescendo, chegando ao mesmo número de cinco crianças da infância de Tânia. Para dedicar-se integralmente à criação e educação dos filhos, com muito amor e afeto, “optou por ficar em casa, cuidando da gente”, conta Stephany Laura.
Ficar em casa não significava orbitar em volta dos filhos ou dos netos (Igor e Lívia, filhos de Gizele). "A mãe gostava de limpar a casa ouvindo músicas sertanejas ou dos anos 70. Quando eu trabalhava fora, sempre que chegava em casa ela já tinha deixado minha roupa preparada e o café na mesa pra não correr o risco de me atrasar na faculdade. Ela sempre priorizou o bem estar da nossa família, não gostava muito de sair e só saia se fosse com toda a família", conta Stephany Laura. Família que, além dos filhos, viu chegarem os netos Igor e Lívia, filhos de Gizele; Otto, filho do Petterson, que Tânia chegou a ver em fotos e vídeos, mas não conheceu pessoalmente, pois a ocorrência de casos de Covid-19 na família impediu a convivência com o bebê; e Augusto, filho do Jhonathan, “nascido depois que ela já não estava com a gente”.
Cozinhava muito bem, apesar de não gostar muito. Ela também amava fazer artesanato, fazia de tudo um pouco, virou costureira por prazer! Gostava de caminhar na praia e era uma pessoa muito espiritualizada. “Devota de Nossa Senhora, era muito católica, e também amava incensos e retiros. Ela sempre foi muito dedicada em tudo que fazia, foi nossa melhor amiga e centro das nossas vidas”, recorda a caçula. Tão dedicada a tudo que decidia fazer que, após a chegada da neta Lívia, construiu do zero uma casa da Barbie de três andares pra ela, só pesquisando na internet como fazer. Depois que descobriu que poderia pesquisar como fazer as coisas, sempre inventava algo novo para se ocupar e, como adorava fazer compras, a internet foi uma ótima companhia para esses momentos.
Tânia amava assistir séries, principalmente as médicas, como "Grey’s Anatomy" e "The Good Doctor". Recordando o dia a dia com a mãe, a filha lembra que ela costumava dizer que passar roupa era uma terapia pra ela. “Teve época que passava até as toalhas de louça. Na TV, era viciada no BBB — chegava a mandar mensagens para os participantes favoritos dela — e era ingênua em relação à internet”.
“Caso tivéssemos qualquer mal-estar, era ela quem nos levava ao médico. Ela costumava ir também, pois tinha problemas no coração e asma, além de um emocional fácil de abalar”, recorda Stephany Laura. Durante a pandemia da Covid-19, ficou trancada dois anos em casa, pois toda a família se preocupava muito com o risco de ela contrair o vírus. “Evitou contato direto com os filhos que trabalhavam fora; eles tomavam banho no banheiro que tinha na garagem pra não entrarem contaminados em casa; fizemos todo o possível para protegê-la”.
“A mãe costumava dizer que era feliz e realizada com a família que tinha e com a vida que tinha conquistado junto com o pai. Como ela nunca vai existir ninguém. Tirava do dela para dar para os outros. Conhecia sua família na palma da mão, ela só precisava olhar no fundo dos olhos pra saber se havia algo de errado”, diz a filha.
“Quando limpava a casa, deixava um cheiro marcante, que até hoje nos faz chorar. A gente vê a mãe em todos os lugares, esperamos estar no caminho certo pra honrar tudo que ela deixou. Sempre vamos honrar. Sempre vamos ter orgulho dela e ela sempre vai estar com a gente. Mesmo longe, estaremos sempre perto. Ela sempre disse que era muito. Minha mãe sempre será luz! Minha mãe era um ser humano iluminado, que por onde passava deixava algo de bom para as pessoas. Sempre será lembrada por todos com muito amor e muita saudade”, resume a filha, que escreveu um poema para a mãe:
“Dói.
Na alma, corpo e coração;
Os dias ficam cada vez mais difíceis, não consigo viver nessa situação.
Dilacerou o peito, balançou a estrutura, destruiu minha vida;
Você se foi, cada dia mais a felicidade se torna desconhecida.
Do amor, grandeza e refúgio, a mais pura personificação;
Como uma bússola, sempre nos deu direção.
Nos mantemos firmes sem tua presença, arrancada de forma inesperada;
Sempre faltará uma peça, tua família, desamparada.
Passando por tantos momentos de tribulação;
Se tornou difícil dormir sem poder segurar tua mão.
Encontro-me perdida, na esperança de haver sobrevida;
Mãe, jamais será esquecida:
Através de ti, recebi a vida.”
Tânia nasceu em Imbituba (SC) e faleceu em Tubarão (SC), aos 54 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Tânia, Stephany Laura do Nascimento. Este tributo foi apurado por Patrícia Coelho e Andressa Vieira, editado por Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 8 de abril de 2023.