Sobre o Inumeráveis

Thiago Noberto de Oliveira

1989 - 2020

Em campo, nos estádios, no rádio ou na TV... em suas veias corria a enorme paixão pelo futebol.

Falar de Thiago era falar de futebol. Sua vida, pensamentos, tudo girava em torno do mesmo assunto: futebol. Ele respirava os ares de um campo, uma bola rolando, a energia de uma torcida.

Thiago morava com a mãe, Sueli, não tinha um trabalho fixo e seu gênio era um pouco difícil.

A irmã Thays conta que ela e Thiago raramente brigavam. "Era muito difícil isso acontecer, porque nos amávamos muito e sempre buscávamos apoio um no outro. Principalmente quando minha filha, Tayná nasceu. Além de sobrinha, ela é sua afilhada e foi sempre muito amada. Era linda a dedicação e o cuidado que ele tinha com sua pequenina. Mesmo não tendo muito jeito, fazia questão de cuidar como se fosse sua filha. Adorava colocá-la pra dormir, embalando seu sono com cantigas de ninar. Thiago esperou muito pela chegada de Tayná e tinha planos de levá-la a um grande jogo de seu time do coração. Mas o sonho foi covardemente interrompido. Filha, hoje com seus dois aninhos, você não entende, mas eu sempre vou te contar o quanto seu tio e dindo foi presente e te amou".

Sua segunda casa era o Estádio do Arruda, onde o tricolor "doente" vivia desde os seus 14 anos para adorar o Santa Cruz Futebol Clube. Ele não perdia um jogo sequer. Era daqueles torcedores fanáticos, que chora, fica nervoso... Jogava até a carteira no gramado quando se irritava com o juiz.

Thiago tinha um ritual: diariamente assistia a todos os programas e escutava todas as resenhas sobre futebol. Precisava estar atualizado de tudo que acontecia com o Santa Cruz. E ainda "fazia uns bicos" apitando jogos de futebol.

Ele tinha um projeto no bairro. Criou um futebol recreativo, a famosa "pelada", para que os meninos da comunidade tivessem uma ocupação com algo que gostavam. Seu primo o ajudava nessa empreitada.

Falando em primo, Thiago tinha a mania de chamar todos os rapazes de "primo". Era muito sincero, extrovertido e alegre. "Vivia fazendo palhaçada e ríamos demais com ele e seu alto astral", lembra Thays. Ela conta ainda que o irmão amava o São João, a festa típica da região. E gostava demais de dançar um forró, principalmente ao som de Wesley Safadão e Xande Avião.

O sorriso e a alegria de Thiago eram uma constante e jamais serão esquecidos por toda a comunidade. Foi um choque para os amigos e a família, perder alguém tão presente e amado.

Thays lamenta que, no início do ano, comprou uma casa em uma cidade vizinha e se mudou. Em razão da quarentena, não viu mais o irmão. Ainda assim, eles se falavam diariamente por chamadas de vídeo, já que Thiago ligava pra ver Tayná. O elo com a família era tão forte que, passados dois meses da partida do querido padrinho, a pequena ainda olhava pro vazio, como se o visse, e chamava "titio, titio".

A mãe e a irmã aproximaram-se de Deus e do evangelho depois de tudo que aconteceu, como conta Thays. "Foi necessário, pra ajudar meu irmão a prosseguir e a entender que assim é o destino de todos. A partida dele foi muito forte e mudou radicalmente nossas vidas, mas sei que um dia vamos nos reencontrar".

Despede-se ainda, com tristeza e amor: "Infelizmente, esse vírus interrompeu seus sonhos, e o levou de forma tão inesperada e sem tempo para despedidas. Tenho um abraço guardado para te dar, meu irmão. Não sabemos dos planos de Deus. Desejo luz e paz na sua nova trajetória. Te amo".

Thiago nasceu em Recife (PE) e faleceu em Recife (PE), aos 31 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Thiago, Thays Noberto de Oliveira. Este tributo foi apurado por Beatriz Maia, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 3 de outubro de 2020.