1962 - 2020
Mulher trans, negra, travesti, ativista e militante dos direitos humanos da população LGBTQI+.
Pioneira na luta pelo direito de existir sem ser perseguida simplesmente por ser quem era, dedicou-se por mais de trinta anos às lutas contra o preconceito e discriminações, pelas causas a favor dos direitos humanos da comunidade LGBTQI+, em especial, transexuais e travestis.
Thina era de uma época em que pessoas transgênero não podiam sair nas ruas durante o dia e que, mesmo saindo somente durante a noite, em seus guetos, na busca por manter sua sobrevivência — ainda que muito precária — em sociedade, era humilhada e recebia ameaças de ser presa, apenas por se identificar como travesti.
Aos 17 anos, foi expulsa de casa e quando tinha 20, foi presa durante a ditadura militar, simplesmente por ser quem era. Passou por muitas situações difíceis e humilhantes, que deixaram muitas cicatrizes, mas que, ao mesmo tempo, fizeram com que ficasse mais forte e resiliente. Travou uma batalha admirável com o objetivo de quebrar estigmas sociais, inclusive, ela e uma amiga fundaram a ATRAC - Associação de Travestis do Ceará, onde Thina era a presidente. Atuava também na Coordenadoria de Diversidade Sexual da Prefeitura de Fortaleza.
"Vai com Deus, irmã! Obrigada por sua trajetória e por fazer parte de nossas histórias de vida, luta e resistência. Em virtude disso, hoje podemos discutir gênero de forma plural, pois você foi parte fundante de um construto histórico que nos aniquila. Você, irmã, superou a estatística de vida de uma pessoa trans, que é em média 35 anos nesse país que naturaliza esse genocídio, mas não resistiu a um patógeno, o coronavírus. O que deixa uma reflexão de que através dessa doença, supostamente democrática, como somos todos iguais em fragilidade e/ou precariedade humana. Pessoas travestis, transexuais ou qualquer que seja a identidade humana têm direito a viver e morrer, também, de forma natural, como foi o caso, vitimada por um vírus que assombra a humanidade, logo, somos todos humanos", relata Fernanda, sua conhecida.
Foi e sempre será um exemplo de ser humano, deixando um lindo legado carregado de lutas e dores, mas também de muito amor e respeito. Deixa também muitas recordações nas trincheiras dessa guerra que é lutar cotidianamente pela vida, pelos direitos humanos e pela igualdade.
Seu sonho era que, um dia enfim, as travestis e trans sejam aceitas de forma plena. Existiu, resistiu, coloriu. Foi sinônimo de força e sempre será.
A luta continua, embora a querida e amada Thina agora já descanse, em paz.
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Uma mulher que fez da sua vida uma luta pela inclusão.
Thina, para as pessoas mais íntimas, dedicou a vida à luta pela inclusão de mulheres travestis e transexuais no estado do Ceará. Isso, para não dizer do Brasil, como um todo.
Uma trajetória de resistências, lutas e superações. Mulher travesti, nordestina e negra, saiu da cidade de Brejo Santo, no interior do estado do Ceará, para eternizar seu nome e suas batalhas na memória do movimento LGBT cearense e nas batidas do coração de todos aqueles que a conheciam ou a ouviam.
Durante a Ditadura Militar, com bravura, enfrentou a violência policial contra travestis. Pensando em como unir as meninas, criou junto à Janaína Dutra, militante, travesti e advogada, a Associação de Travestis do Ceará (ATRAC) para lutar pelos direitos daquelas que a sociedade insistia em não querer ver.
Mesmo tímida, Thina escrevia histórias lindas por onde passava: fosse nas palestras que ministrava falando sobre identidade de gênero e as consequências da discriminação na vida dessas mulheres, fosse nas mesas de bar, com amigos, compartilhando gargalhadas nas noites cearenses.
Ela era "histórias e narrativas" de uma população que o tempo e o preconceito desejou emudecer. Por isso, Thina falava. Falava alto para que ouvissem que somos seres humanos e precisamos ser respeitados, apesar das nossas diferenças.
Sempre feliz e agitada, não baixava sua cabeça por nada. Encarou a vida de frente. Sabia a que veio e brilhou. Brilhou lindamente. Ecoou sua voz grave pelos palcos da vida, onde indagava: "Quem chora por nós?"
Temia ser esquecida quando saísse da vida terrena para as lembranças. E, até o momento que foi possível, abriu caminhos para que outras continuassem suas jornadas e nunca desistissem de acreditar que podemos ser quem desejamos. Que a vida só vale a pena quando pertencemos a nós. E Thina foi, exatamente, quem quis ser: inesquecível.
Thina nasceu em Brejo Santo (CE) e faleceu em Fortaleza (CE), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela conhecida de Thina, Lucivânia Lima de Sousa. Este tributo foi apurado por Jonathan Querubina, editado por Bianca Ramos e Fernanda Bravo Rodrigues, revisado por Lígia Franzin e Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 30 de agosto de 2021.