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Valdir dos Santos Silva

1962 - 2020

Viveu na sabedoria de ser simplesmente quem era e se alegrava com a felicidade das pessoas ao seu redor.

Usava uma frase que virou sua marca registrada e era assim que se apresentava nos lugares: “Prazer, Valdir dos Santos Silva”. E fazia questão de dizer que era filho da Dona Idalice e do Seu Zé Toureiro.

Sorridente, tinha uma gargalhada marcante, contagiante. Na família era o tio Chiquinho. Outros o chamavam pelo apelido de “Monza”, porque esse era o carro dos seus sonhos quando jovem. Tinha muitos amigos, de todas as idades, que demonstravam intenso carinho por ele.

Valdir era divorciado e pai de três filhos já adultos: Rodrigo, Franciele e Naira. Por 16 anos manteve um namoro firme com Ana, um relacionamento sólido de muito companheirismo e amorosidade, que os levou à decisão de morarem sob o mesmo teto três meses antes de sua inesperada partida.

Levava alegria por onde passava. “Se a festa estivesse desanimada, ele chegava cheio de animação e trazia felicidade para a gente”, conta a sobrinha Flavia, que conviveu bastante com o tio. “Ele tinha um coração que não cabia dentro do peito. Não media esforços para ajudar um amigo ou familiar e ficava feliz de verdade quando via as pessoas conquistando alguma coisa, alcançando algum objetivo de vida”, comenta com emoção.

Seu programa favorito era ir para o mato e pescar. Trabalhou como motorista de caminhão e foi também fiscal de plantação de cana de açúcar, mas a profissão que escolheu para exercer e na qual se estabilizou foi como pedreiro autônomo.

Para Valdir, os bens materiais ficavam em segundo plano. Mesmo se estivesse duro, sem dinheiro, mantinha o alto astral, era feliz do jeito dele. Em 2018, superou um câncer e a boa notícia de sua cura, depois de tratamentos intensos, resultou numa grande festa entre os familiares.

“Tive a oportunidade de passar um mês com ele nos últimos tempos, e conversamos um pouco sobre tudo: sobre Deus, sobre a morte. Ele costumava dizer que uns iam antes e outros depois, mas que a única certeza era que todos iam”, relembra Flavia, com muita saudade e ao mesmo tempo agradecida pela oportunidade de ter aproveitado a proximidade com o tio.

E dentro dos desígnios insondáveis da vida, numa família grande onde ele era um dos nove filhos que frutificaram em 17 netos e 16 bisnetos, foi o primeiro a partir, deixando uma lacuna que só o tempo poderá suavizar. Os pais, Dona Idalice e Seu Zé, do alto dos seus mais de 80 anos, ainda ficam sentadinhos olhando para o portão, esperando o filho chegar para juntos tomarem o café da manhã, como era o costume. Aos poucos, a dor da saudade quem sabe poderá se transformar em aceitação e amor por meio das boas lembranças daquele filho, irmão, tio, pai e amigo que deixou um exemplo de força e simplicidade e ensinou a alegria de viver.

Valdir nasceu em Flora Rica (SP) e faleceu em Leme (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Valdir, Flavia de Lima Rodrigues. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bettina Turner, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 10 de junho de 2021.