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Valdomiro Nunes Vieira

1935 - 2020

Pai zeloso, avô querido, trabalhador dedicado: não lhe faltavam qualidades.

Homem trabalhador e muito honesto são as características que vêm na frente, quando as irmãs Ângela e Silvana são solicitadas a descrever o pai, Valdomiro.

Vindo do interior do Rio Grande do Sul, do distrito de Campo do Meio, que à época pertencia ao município de Passo Fundo, considerava uma virtude mostrar que não se acanhava com serviço.

E assim foi. Valdomiro fez carreira na Companhia Riograndense de Saneamento, a Corsan. Começou abrindo valetas com picareta, “num sol de rachar”. Jamais reclamou do ofício, “podia estar doente, mas não faltava trabalho”.

Com o tempo, tornou-se “capataz”, substantivo que mais recentemente deu lugar aos termos “chefe” ou “líder” no linguajar brasileiro, sobretudo no ambiente empregatício. Aposentou-se com 36 anos de empresa.

Em casa, era muito bravo. Não gostava que os filhos fossem do portão de casa para fora. Era a forma de garantir a proteção dos seus. Repreendia quando as crianças aprontavam alguma travessura, mas isso era mais com os meninos. As "gurias" sempre foram mais comportadas.

Tinha o ritual de levar suas duas filhas consigo quando ia a um depósito comprar bananas, sempre com a sacola da Corsan.

Durante a semana, o emprego restringia o tempo com a família. Aos fins de semana, gostava de cuidar da horta e do pátio. Não dispensava a cervejinha. Era nessas ocasiões que deixava a personalidade severa de lado para ser o pai bonzinho, que comprava tudo que os filhos pediam. No fundo, tinha muito bom coração.

Conforme foi envelhecendo, abandonou por completo as características de pai rígido. Virou o avô querido, sempre sorrindo e feliz.

Há alguns anos a memória passou a lhe pregar peças. Foi diagnosticado com mal de Alzheimer. Ainda que em alguns dias não pudesse identificar a todos da família, adorava ser visitado pelos netos e bisnetos. Alegria que dividia espaço com os doces. Era um “formigão”.

Valdomiro nasceu em Passo Fundo (RS) e faleceu em Passo Fundo (RS), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Jornalista desta história Larissa Paludo, em entrevista feita com filhas Ângela Nunes Vieira e Silvana Nunes Vieira, em 4 de agosto de 2020.