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Valéria Aparecida da Silva Gusmão

1973 - 2020

Alegre, tinha a curiosa mania de fazer pipoca, em qualquer ocasião. Qualquer uma mesmo, até em churrascos!

Se você pesquisar, vai descobrir que o nome Valéria tem outro significado, mas se pudéssemos dizer apenas com base nesta, que também era conhecida como Baixinha, Valéria poderia muito bem ser sinônimo de "a iluminada".

É a primogênita Daiane que conta que a mãe "foi uma pessoa de luz", que fazia questão de iluminar, do seu próprio jeitinho, aqueles que encontrava pela vida. E foram muitas pessoas. Valéria era amiga de muita, muita gente e encantava todos com sua alegria, sempre transparecendo que sua essência era a do cuidado com o próximo, independentemente de quem fosse.

Valéria foi mãe bastante jovem, tendo ainda uma segunda filha, Karine. Casou-se com o pai de suas meninas, seu primeiro namoradinho e sua grande paixão, Wallace. Junto dele, Baixinha construiu uma família que era a prova de que coração de mãe sempre tem espaço para mais um.

Superando com maestria as adversidades da gravidez na juventude, Valéria batalhou a vida inteira sem tirar o sorriso do rosto. Mas é sabido que a sua felicidade atingiu níveis inimagináveis quando o neto Leonardo, filho de sua caçula, nasceu. Léo foi o verdadeiro amor da vida dessa avó, que fez de tudo e mais um pouco por seu menino.

É de se entender. Valéria foi madrinha de 12 crianças. Isso mesmo, 12. Se não se desse bem com elas não seria assim e, se não tivesse no peito o coração puro dos infantes, não teria recebido essa honra de tantos pais que a ela confiaram seus maiores tesouros.

Uma das mães foi Janaína. "Existem pessoas que têm o dom de acolher todos. Ela era assim. Foi um exemplo de madrinha, muito presente na vida de minha filha", lembra a amiga, que conheceu Valéria ainda na adolescência e nunca mais a abandonou, sendo por isso testemunha também do espírito divertido e festeiro de sua comadre.

Depois de criar Daiane e Karine, Valéria dedicou-se aos outros sonhos e se divertiu bastante. Aos 35, correu atrás da conclusão dos estudos, que haviam sido interrompidos. Soube dosar as responsabilidades com muitos passeios e festas com a família e com pessoas queridas.

Jana conta que Valéria fazia questão que a celebração do Natal fosse sempre em sua casa, com muita fartura e animação. A turma, adepta de uma boa cervejinha, era testemunha de uma mania engraçada de Baixinha: a de fazer pipoca para si e para os outros, em qualquer ocasião, até em churrascos. A amiga entende que a pipoca, assim como o café fresquinho, eram formas de "deixar todo mundo bem, de um jeito carinhoso".

Filha, irmã de oito, esposa, mãe, avó, madrinha de muitos e amiga zelosa, Valéria gostava muito de "Como é grande o meu amor por você", música de Roberto Carlos que agora ecoa como declaração feita por todos aqueles que a amam intensamente.

Valéria nasceu em Itajuba (MG) e faleceu em São Bernardo (SP), aos 47 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha e pela amiga de Valéria, Daiane Gusmão Barreto e Janaína de Paula da Silva Henrique. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 1 de agosto de 2020.