1949 - 2020
Traduziu sonhos em concreto sem deixar de mirar a lua.
Seu pai tocava a Marcenaria União, no interior paranaense, quando Valnei decidiu estudar na Universidade Federal do Paraná, tornando-se, aos 25 anos, o primeiro engenheiro civil formado da jovem Francisco Beltrão, no interior paranaense, perto da divisa com Santa Catarina.
Em 1982, aos 33, junto com o irmão Walmiro, Valnei fundava a própria construtora, num contexto em que o Brasil ainda expandia sua infraestrutura, apesar da crise econômica que marcou o fim da ditadura militar. A partir de então, a empresa só fez crescer.
Entre suas façanhas, está a construção do maior armazém de grãos do país, em Guarapuava (PR), e a primeira usina brasileira de etanol, em Rio Verde (MT), além da Torre Nossa Senhora da Glória, com seus 100 metros de altura, no centro de Francisco Beltrão – obra que se tornou símbolo da cidade.
Ao longo de sua carreira empresarial, Valnei foi o responsável pela construção – além de plantas industriais, agroindustriais, residenciais e comerciais – sobretudo de edificações encomendadas pelo poder público: creches, prontos-socorros, pontes, barragens, terminais fluviais, escolas e habitações populares.
A partir de 1996, já na vigência eufórica do Plano Real, expandiu seus negócios para o Mato Grosso, onde fundou outra construtora, enquanto executava projetos nos estados de Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rondônia, Tocantins, Goiás, São Paulo e Minas Gerais. Sua intensa atuação empresarial e os serviços de suas construtoras lhe valeram várias honrarias.
Na vida privada, Valnei é descrito por Liz Ângela, uma de suas quatro filhas, como “pai de debutantes, pai de noivas, pai presente”, “esposo muito dedicado” e um homem racional, que, como engenheiro, “costumava ver o mundo a partir do raciocínio lógico, avaliando as situações em números e medidas”. Aos netos Theo e Eron, porém, sempre perguntava: “Vocês não se esqueceram de dizer alguma coisa hoje?”, para que eles lhe respondessem: "Te amo, vô!" E continua a filha: “Valnei adorava observar a lua”.
Liz Ângela atribui à ascendência italiana do pai o gosto pelo salame, pela batata-doce e pelo pinhão. “Em sua horta e pomar ele plantava, cultivava, colhia e servia delícias para a família, fazendo questão de reunir todos à mesa”. Metódico, diariamente “cumpria o ritual do banho, barba, roupa limpa e café da manhã”.
Nos últimos tempos de vida, viúvo de sua única esposa, “memórias bonitas” da infância e da juventude de Valnei, em meio à inalterável rotina, “constantemente lhe emergiam e, com um iluminado sorriso, contava as lembranças da marcenaria com amor e gratidão pelos pais”, retornando à simplicidade de onde tudo começou.
Valnei nasceu em Francisco Beltrão (PR) e faleceu em Francisco Beltrão (PR), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Valnei, Liz Angela Ghedin Babinski. Este tributo foi apurado por Talita Camargos, editado por Joaci Pereira Furtado, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de dezembro de 2020.