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Victor Rodrigues Medeiros

1995 - 2020

Vitão era luz de bondade na vida de quem chegasse perto dele.

Victor, o Victão, era sinônimo de alegria. Era aquele sujeito de riso largo... de gargalhada alta, daquelas que faziam todo mundo virar o pescoço para olhar e rir junto.

Era festeiro e, por qualquer motivo, já fazia uma reunião de amigos - um churrasco, uma cervejinha em família - sempre no casarão tradicional dos avós, porque não era de andar por bares e baladas. Os amigos viravam logo "da família", na pequena Miguel Alves, cidade do interior do Piauí.

“Era um garoto muito responsável e muito apegado à família. Vivia intensamente cada dia de sua vida, fotografava tudo por onde passava e tirava selfies, em todo lugar - parecia que estava adivinhando...”, conta sua tia Aninha.

Essa alegria viver é o retrato verdadeiro dele, que gostava de estar com a família e de mostrar como era grande e forte. Um grande garoto de 1,85m e 120kg. A tia conta ainda que" "Ele se divertia em brincar de abraço, chegava por trás e apertava a mãe dele, fazendo cócegas..." Gostava de cheirar a mãe, e dizia: “Minha véinha, minha véinha do coração”. Era muito ligado aos pais e, mesmo morando longe, falava com eles diariamente.

"Gostava muito de viver (...) Não podia ver a gente desarrumada que já mandava se arrumar, se produzir, ficar bonita”, conta ainda a tia, que complementa: "Ele gostava de andar muito arrumado, muito cheiroso, tomava muito banho. Toda terça-feira saía com os avós para passear, para eles verem a cidade."

"Victor era prestativo, era 'tudo pra toda hora', só não dava para chamá-lo pra fazer compras em shopping... pra entrar de loja em loja... Ele não tinha paciência!”, essa é mais uma recordação da tia.

E, como era de uma família de muitas mulheres, ele logo dizia que: “bom mesmo é deitar numa redinha e comer um bom pedaço de bolo”. Mas, se precisassem dele para dirigir a noite inteira só para ir buscar um saco de cimento, ele estava disposto sempre.

Em sua cidade natal, Victor fez história. Vindo de uma família de tradição política, cumpriu seu papel cívico de maneira bem particular. Sua tia conta ainda que: "Durante muitos anos, desde bem pequeno, ele foi o 'cantor oficial' do hino da cidade, nas festas de aniversário do município", e as recordações continuam: “Com a mãozinha no peito, muito sério, ele cantava o hino inteiro, sem errar! (...) a cidade inteira aplaudia orgulhosa aquele pequeno cidadão, que, no entanto, não se tornou político, como se esperava, mas carregou sempre no peito a generosidade e o cuidado". Tanto que, foi trabalhar em um posto de saúde, e ali cuidava pessoalmente do atendimento de cada paciente que chegava. Mas, Miguel Alves ficou pequena demais para Victor.

Era um homem de coração gigante, que contagiava todos ao seu lado pela sua bondade, pelo companheirismo e pelo seu sorriso cativante. Sua esposa, Fran, nos disse: “Posso definir o Victor como ‘Luz’, ele foi luz na minha vida... Victor foi minha alma gêmea, meu amigo, meu namorado e meu marido!”

"Eles se conheceram em 2016, no Piauí, mas ela (Fran) morava em Brasília. Nunca perderam contato. Ele sempre dizia que iria largar tudo para ir em busca de seu grande amor", é o que conta sua prima Larissa - Ele cumpriu a promessa!

Em junho de 2019, sem avisar ninguém em casa, pegou o ônibus e foi ao encontro de Fran. A esposa relembra: “Ele veio para morar comigo, para construirmos nossa vida (...) Estávamos felizes, tínhamos muitos planos, infelizmente interrompidos pelos planos de Deus. É muito difícil de entender ainda esses planos divinos. Victor transformou minha vida e me fez a mulher mais feliz do mundo, ele era tudo pra mim, um excelente marido, um amigo”. E Fran completa dizendo: "Quem conheceu o Victor, conheceu o coração dele, porque ele não era homem de dissimulações."

Amava muito a família, as irmãs, o irmão, os sobrinhos; e por onde ele passava, sempre conquistava as pessoas. A tia Aninha conta que em Miguel Alves a notícia de seu adeus parou a cidade. O prefeito decretou luto oficial, de tão querido que era esse cidadão miguel-alvense. No celular da família, uma mensagem ainda está guardada: “Eu vou conseguir sair dessa, amo todos vocês, família. Gratidão por tudo”.

Victor nasceu em Miguel Alves (PI) e faleceu em Brasília (DF), aos 25 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Victor, Franquelâne de Brito Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Sandra Maia Farias Vasconcelos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 5 de junho de 2020.