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Vinicius Marques Ferreira Jorge

1977 - 2022

Com obras de imensa profundidade, realizava artes atemporais que o tornaram respeitado no meio artístico.

Elisabeth inicia sua homenagem ao amigo Vinícius falando dos amores que ele carregava consigo: “Considerava como pessoas importantes em sua vida, a esposa Patrícia, o seu grande amor, o filho Gabriel, a mãe Denise e os amigos, Edu, Chelo e eu. Eram nessas pessoas em quem ele confiava e contava em qualquer momento”.

Ela se recorda saudosa do momento em que seus caminhos se cruzaram para nunca mais se separarem: “Nos conhecemos há algum tempo. O meu irmão, Eduardo, os meus filhos, Daniel e Viviane, e eu somos entusiastas de toys, brinquedos colecionáveis. Certo dia, realizávamos uma caminhada e avistamos a oficina dele. Lá, as diversas peças de escultura que ele estava restaurando nos chamaram a atenção. Quando paramos para olhá-las, ele nos recebeu com tanto carinho que ficaríamos apenas 5 minutos, mas passamos horas ao lado dele. A partir dali, construímos uma bonita amizade”.

Ressalta também o grande artista que ele foi: “era muito respeitado e valorizado no meio das artes. Artista plástico genial, brilhante, um escultor sensacional, detalhista, um verdadeiro gênio que não teve tempo de ter o reconhecimento do grande público, porém vários museus pediam que fizesse as peças correspondentes às exposições. O trabalho mais interessante para ele foi o que fez na Colômbia, que foram animais em tamanho real; ele passou seis meses por lá, trabalhando nesse projeto e amou demais ter feito parte disso.”

Elisabeth, por ser médica infectologista, idealizou, com a chegada da Pandemia, um canal no YouTube para informar as pessoas e, então, ele foi parte essencial e indispensável no processo de criação comunicativo deste projeto.

Ela conta ainda que ele era “extremamente hábil e curioso, um fã de Star Wars e do Senhor dos Anéis, que nas horas vagas assistia documentários sobre diversos assuntos, mantendo-se sempre bem informado. Tinha extremo interesse por dinossauros, tanto que sua última peça esculpida remetia ao filme Jurassic Park”.

Vinícius era dono de excelente caráter, irmão muito presente, pai amoroso, esposo zeloso. Amigo excepcional, engraçado, leal, sempre disponível. Passava as madrugadas acordado conversando, notívago. Seu sonho era ir morar fora do país com sua família.

Entre suas principais características estavam a alegria, a amorosidade e o instinto de proteção. Por ser divertido e muito inteligente, gostava de brincar com todos e sempre tinha um novo assunto em seu repertório. Ele era aquele tipo de pessoa que qualquer um poderia conversar com ele por horas a fio.

Vinicius possuía um coração enorme e era capaz de quaisquer coisas pelas pessoas que amava, mas, caso houvesse erros, deslealdade, não era alguém de segundas oportunidades.

Como todo mundo, possuía o seu lado "ogro", mas até como tal, era fantástico. Sempre bem teimoso e não podia ser contrariado que se irritava rapidamente. Não cuidava da saúde, fazia exames e não mostrava nem para Elisabeth, que além de amiga, era sua médica.

“Quando já estava acometido pela Covid-19, pediu que, caso não resistisse, queria um funeral viking, com o corpo dele em um navio em chamas que ia em direção ao mar. O seu último ato foi muito profundo, intenso, com milhões de sensações e sentimentos. Assim como ele: genial, artístico e que reunia alma, pensamento e atitude”, conta a amiga.”

Ela encerra sua homenagem compartilhando os aprendizados que a convivência e partida do amigo lhe trouxeram: “O Vinicius me deixou uma reflexão muito séria, ficamos de marcar o nosso café, churrasco, passeio ou qualquer evento para passarmos um tempo juntos, mas não conseguimos nos meses que antecederam a sua morte. Entretanto, para ir ao hospital e ao velório eu arrumei tempo onde não existia aparentemente nenhuma brecha”.

“Em resumo, as pessoas que amamos devem ser prioridade em nossa vida. Temos a obrigação emocional de arrumar esse tempo. Com toda certeza, estou até hoje sentindo vontade de abraçá-lo, de vê-lo sorrindo ou tirando sarro de tudo, e de rirmos de absolutamente todas as coisas. Assim nos conhecemos e assim nos despedimos. Dor impossível de quantificar”.

Vinicius nasceu em Santos (SP) e faleceu em Pedro de Toledo (SP), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela amiga de Vinicius, Elisabeth Dotti Consolo. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Larissa Reis em 9 de janeiro de 2024.