1977 - 2020
Uanda era pura alegria, transformava o cotidiano em piada. Era impossível se zangar com ele.
O apelido Uanda veio da infância. O nome Wanderson fora escolhido por sua tia e madrinha, que também tem nome diferente: Maijan. A mãe, Dona Maria, pronunciava “Uanderson”, que logo passou a "Uanda". O nome pegou e passou a ser usado pelos irmãos Eliene, Eliane, Ilani, William, Lian e pelos parentes mais próximos.
Wanderson era espirituoso, perspicaz e fazia brincadeira com tudo. Sabia como ninguém aproveitar os acontecimentos para fazer piada. Nas palavras da cunhada Dioneza, um “palhaço todo”. Não perdia a chance de "zoar" de alguma situação.
A família da esposa Lidiane o chamava carinhosamente de "Gordo". Embora não fosse obeso, sempre foi forte e corpulento. A cunhada lembra os churrascos muito fartos que ele organizava. Nessas festas, conta ela, brincava muito com a sogra, Dona Maria de Fátima, que junto com o sogro Manoel tratava o Gordo como um filho. "Êêêê, Lidiane, guarda um pedacinho de carne aí para a minha sogra, que ela gosta de um churrasco."
Como morava bem perto, mantinha uma relação muito próxima com a sogra. Vivia almoçando na casa dela, e foram muitas as vezes em que Wanderson visitava Dona Maria de Fátima e Seu Manoel, no início da noite, para uma boa conversa sentados na porta da casa.
Quando via um vídeo engraçado na rede social, a primeira pessoa para quem mandava era a sogra. Dizia: “vou mandar pra Dona Fátima que ali é ‘besta’ pra sorrir”, usando a gíria maranhense de "ser besta" para gostar muito de alguma coisa.
Com os cunhados era igual. Foi, aliás, da cunhada Dioneza a iniciativa de eternizar a história de Wanderson nesta homenagem. "Nós somos muito família. Eu admirava muito o jeito como ele tratava as filhas. Tinha um coração enorme."
"Nosso querido Gordo era um bom esposo, um bom pai, um bom filho", continua Dioneza. "Tudo que ele conseguia com o trabalho era para dar conforto para a esposa e as filhas."
Uanda ficava muito à vontade com os sobrinhos. Sempre que surgia uma oportunidade saía para levar alguns para lanchar - de preferência pizza. O local favorito para levar as crianças era a avenida que margeia o Rio Tocantins, que corta Imperatriz, a segunda maior cidade do Estado do Maranhão. As caminhadas e brincadeiras eram frequentes, uma vez que eram nada menos que 14 sobrinhos, entre crianças e adolescentes. Também saía bastante com o cunhado Alexandre.
“E aí, Maria Laura, vá pegar as tuas roupas. Tu gosta é daqui, tu vai morar é aqui mesmo”, costumava dizer a uma das sobrinhas. E não é que a menina pedia a Dioneza? “Mãe, arruma as minhas roupas que eu vou morar lá na casa do tio Wanderson.”
Sua caçulinha Esther chegou de surpresa 12 anos depois de Lilian Rebeca, a filha mais velha. Lidiane já tinha 38 anos e foi uma gravidez de risco, teve de ficar de repouso. Ao longo da gestação, Gordo, além do trabalho como vigilante, cuidou de tudo em casa.
A relação de Wanderson com o enteado Tallyson teve o mesmo traço de cuidado. “Olha, Tallyson, eu sou teu pai, porque quem te criou fui eu.” Fez questão de deixar para ele sua moto, pois sabia que o enteado estava juntando dinheiro para comprar uma motocicleta.
A tímida filha Lilian Rebeca tinha o pai como um amigo e confidente. Uma das diversões preferidas dos dois era brincar na piscina, muitas vezes junto com primos e amigos da garota. Rebeca e Wanderson faziam aniversário no mesmo dia (e não por mera coincidência). A festa era sempre conjunta. Outra coisa que amavam fazer juntos era assistir a filmes e séries. "Rambo" era o favorito de Wanderson.
A carta escrita por Rebeca para o pai, a lápis, numa folha de caderno, diz: "Tenho certeza de que não foi um adeus, somente um até breve. Você foi o melhor pai do mundo e ainda é o meu herói, meu exemplo. Eu te amo e sempre vou te amar."
“Meu esposo era um marido maravilhoso. Foram tantos momentos marcantes, dezessete anos de convivência... Eu me sentia muito, muito amada e desejada por ele. E eu o amei muito também", afirma Lidiane, lembrando que só o fato de ter trocado um dia a foto de perfil numa rede social já foi suficiente para lhe garantir uma declaração de amor. "De imediato ele me ligou: ‘minha filha, amei, amei, amei a sua foto do perfil. Você está tão linda... Eu te amo demais’."
Ela recorda de quando descobriu a segunda gestação. Num ultrassom, a médica disse que era um menino. E ele sempre perguntava: "como está o nosso jogador?”. "Quando veio o outro ultrassom, já tínhamos escolhido até o nome. Ia se chamar Joaquim. Homenagem ao pai dele. Então o médico disse que era menina. Numa cena inesquecível ele disse: ‘Obrigado, meu Deus! Deus me ouve!’ E me contou que orava para que Deus mandasse para ele mais uma menina."
A memória de Wanderson segue viva e presente. Na descrição da cunhada Dioneza, é como a paisagem de um jardim, cheio de pássaros cantando, imagem que ela escolheu para representar a alegria que Uanda espalhou e plantou.
Wanderson nasceu em Imperatriz (MA) e faleceu em Imperatriz (MA), aos 43 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela cunhada, pela esposa e pela filha de Wanderson, Dioneza Bandeira Tolentino Silva, Lidiane Bandeira Tolentino e Lilian Rebeca Rêgo Tolentino. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ernesto Marques, revisado por Fernanda Ravagnani e moderado por Rayane Urani em 9 de julho de 2021.