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Wheberton Cristo de Souza

1984 - 2021

Quando ganhava um dinheirinho da avó, sempre corria ao encontro de sua irmãzinha para dividirem um sorvete.

Beto, como era conhecido, vivia no Espírito Santo com o pai e a avó. Quando tinha seus três ou quatro anos, o pai de Beto começa a namorar com a vizinha, o amor evoluiu para um relacionamento mais sério, e a sua filha Renata torna-se a irmã de Beto. "Ele era o filho do meu padrasto, me chamava de minha irmãzinha e prometeu que me protegeria por toda a vida. Menino bom, coração enorme, inocente e amado", relembra Renata com saudades.

Na infância, Beto e Renata faziam tudo juntos, com seu jeito carinhoso e protetor, ele dizia que sempre estaria ao lado dela. Iam de carona com o pai de Beto na mesma bicicleta, se divertiam, faziam tarefas juntos e quando alguém bronqueava com Renata, Beto era o primeiro a sair em sua defesa.

Ela relembra que seu irmão era tão companheiro, que quando ela precisou fazer uma cirurgia aos sete anos, Beto não saía do lado dela. "É difícil encontrar uma foto em que não estivéssemos juntos", relembra a irmã. Ele adorava cantar, as músicas internacionais eram as suas preferidas e os dois gostavam muito de dançar as músicas do Latino e divertiam-se com seus coelhos de estimação.

Aos quatro anos, Beto foi diagnosticado com epilepsia. No início os episódios eram mais raros e ele conseguia antever a ocorrência. No entanto, até a idade adulta, passaram a ser mais recorrentes, o que acabou por limitar suas atividades e o levou a um atraso cognitivo. "Foi como se ele permanecesse criança para sempre. Gostava muito de desenhos e vídeo games, além disso, era apaixonado pelo Flamengo." relembra Renata. Além dela, Beto tinha um irmão por parte de mãe chamado Jonathan, por quem nutria muita admiração, e também Pamella, que era irmã por parte de pai.

Ele acreditava ser capaz de resolver os problemas de todos e tinha um coração repleto de generosidade e bondade, estava sempre pronto a compartilhar um sorvete quando sua avó lhe dava uns trocados. Aos 17 anos, Beto voltou a viver com a mãe. Dali em diante o que mais gostava de fazer era passar o tempo na varanda em frente a sua casa, se divertindo com as crianças que brincavam na rua.

Um homem que ensinou a todos o significado da palavra pureza e generosidade, gigante com coração de menino.

Wheberton nasceu em Vitória (ES) e faleceu em Cariacica (ES), aos 37 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Wheberton, Renata Medeiros dos Santos. Este tributo foi apurado por Larissa Reis e Ana Helena Alves Franco, editado por Mariana Nunes, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 18 de outubro de 2021.