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Wilson Luiz Garcia da Silva

1986 - 2020

Divertia-se com momentos simples da vida: a pescaria, o almoço de final de semana em família ou ouvindo música.

Wilson era uma pessoa boa e que cumpriu com brilhantismo o papel de padrasto para Thayany, que o homenageia contanto várias passagens de sua vida com ele:

“Minha mãe se chama Gizele, eles acabaram se conhecendo porque ele pegou o contato dela e resolveu passar um trote. Conversa vai e conversa vem, eles acabaram se apaixonando. Ele era uma pessoa muito companheira e de bom coração, sempre esteve ao lado dela e ajudava sem ela ao menos pedir, e quando tinha alguma discussão ele preferia ficar quieto e esperar ela se acalmar para depois conversarem.”

“Morava conosco há uns 2 anos e ele foi um verdadeiro pai para mim que, mesmo não sendo sua filha biológica, me tratava igual ao filho dele, me dando conselhos, apoiando, repreendendo e demonstrando o seu amor. Sempre me buscava na escola e durante o caminho eu ficava contando todas as curiosidades que tinha descoberto sobre o mundo e ele escutava com total atenção. Prezava o companheirismo e a família”.

“O nome do filho dele é Victor, a quem ele amava e queria a guarda. Nunca deixou o menino de lado e fazia de tudo por ele, mesmo não morando juntos. Todo final de semana pegava pista para buscar o menino em Campinas e trazer para Mogi Guaçu para passar um tempo com ele; eles tinham uma conexão incrível.

“Ele amou e tratou muito bem a minha mãe, mas, infelizmente não conseguimos aproveitar bastante a companhia dele por causa dessa doença. Eles iriam se casar no mês que ele faleceu"

Thayany conta que o padrasto aprendeu a gostar de pescar com sua mãe e que faziam isso quase todo final de semana num pesqueiro, em companhia de Victor, onde se divertiam e almoçavam. Um fato engraçado ocorreu numa dessas ocasiões. "Certa vez, o peixe levou a varinha para o meio do lago e toda vez que ele tentava pegar, o peixe se movia para outro lado, até que ele teve a ideia de usar um chinelo com a linha para puxar a vara e ele acabava sempre rindo quando se lembrava dessa cena".

Recordando-se de histórias marcantes, ela conta, também, que uma noite estava dormindo quando um bichinho entrou no seu ouvido, fazendo com que ela acordasse, gritando de dor. Wilson e sua mãe apareceram no quarto, correndo, assustados e ele com uma faca pensando que alguém tinha entrado na casa. Quando eles se acalmaram, Gisele, que era técnica de enfermagem conseguiu retirar o bichinho, mas o padrasto insistia que a levassem ao hospital, demonstrando cuidado e preocupação.
Ele tinha toda uma pose de "bravo", porém, foi uma das pessoas mais bondosas que eu conheci. Sempre prestativo, não somente com a família e sim com todo mundo ao redor, ele exalava empatia e, quando estamos num momento difícil ou com muita saudade, sentimos a presença dele e sonhamos com ele, acho que ele sente a nossa aflição e tenta nos ajudar mesmo de longe”.

Wilson trabalhava na S.O.V de segurança na nossa cidade, se dedicava bastante ao serviço, todos o conheciam por ser uma boa pessoa. Soube que teve um acontecimento em que uma moça acabou batendo o carro, mas não foi muito grave. Quando ele foi ver o que tinha acontecido, ela explicou que possuía um olho de vidro e acabou que bateu bem na reta da visão que ela não tinha. Ele entendeu o que aconteceu e liberou ela, pois a moça acabou não tendo culpa”.

Nas horas vagas ele gostava bastante de assistir shows de stand up e passava na televisão sempre com um refrigerante ao lado. Todo final de semana a família assistia programas que passavam shows e ele dava gargalhadas gostosas e divertidas.

A enteada fala de ensinamentos, lembranças e sonhos de Wilson: “Me ensinou a escolher uma boa pessoa para me relacionar e também como os momentos que vivemos são importantes, principalmente o do presente, pois, tudo pode mudar.”

“Ele sempre quis trazer o Victor para morar conosco, infelizmente não deu tempo de realizarmos isso. Também comentava que um dia teria um carro Opala e acredito que riria muito e amaria os shows que os comediantes estão fazendo no teatro da minha cidade”.

“Uma música que sempre me faz lembrar dele é Saturn Sleeping at Last. É impossível citar todas as coisas que me lembram ele, porque tudo ao meu redor tem um pedacinho dele. Eu e a minha mãe acabamos guardando uma blusa que ainda tem o cheiro do perfume dele e, então, toda vez que sentimos saudades, abraçamos a camiseta porque ajuda a sentir um pouco sua presença”.

Wilson nasceu em Mogi Mirim (SP) e faleceu em Mogi Guaçu (SP), aos 33 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela enteada de Wilson, Thayany Vitoria Maciel Cavenaghi. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 16 de novembro de 2023.