1964 - 2020
Foi a mão delicada que vacinou centenas de criancinhas manauaras do bairro de Educandos.
Destacou-se como uma filha exemplar. Ficou viúva muito cedo, com cerca de 30 anos e mudou-se com os filhos, Fabiana e Fábio, para a casa da mãe, Dona Maria. É a filha quem conta que viu a mãe cuidar da avó com muito zelo, sempre preocupada com sua alimentação e remédios.
"Vovó foi perdendo a vitalidade e aprendi muito, vendo minha mãe cuidar dela, com os papéis de mãe e filha invertidos e um amor imenso. Foram amigas e companheiras de jornada até os últimos dias, quando partiram praticamente juntas", acrescenta Fabiana.
Essa mãe extraordinária e guerreira, fez todo o possível pelos filhos. A falta do esposo não a impediu de buscar forças para suprir as necessidades de Fábio e Fabiana e acalentá-los com afeto e o melhor de si. "Dificilmente ouvíamos um não", relembra com saudade Fabiana.
Se os filhos quase não ouviam não, o que dizer do neto amado? Fabiano é filho de Fábio, e Ruth era completamente apaixonada por ele. Dedicada, a avó fazia questão de demonstrar seu amor, para que ele não tivesse a menor dúvida.
O cuidado com a mãe, além de amor, já era um dom. Ruth dedicou a vida a cuidar das pessoas. Trabalhou durante anos como auxiliar de enfermagem na UBS do seu bairro. E podia dizer, com orgulho, que tinha sua assinatura em praticamente todos os cartões de vacina das crianças que moram no local. Isso lhe rendeu inclusive uma homenagem em sua despedida final, pelos amigos de profissão.
Era conhecida por todos como Rutinha e, até o dia em que foi hospitalizada, recebia pessoas em sua porta, indagando se ainda estava trabalhando. Isso, um ano após sua aposentadoria, a qual ela nem sequer pôde aproveitar como merecia.
Ela era a personificação da tranquilidade e da paz. Até mesmo seu hobby combinava com seu jeito, pois gostava de usar o tempo livre para jogar paciência no celular. "Seu sorriso meigo era uma fonte de energia e amor para todos nós", lembra a filha Fabiana.
As unhas de Rutinha eram o maior reflexo de sua vaidade. Tinham que estar sempre bem-cuidadas e pintadas de vermelho, seu tom preferido de esmalte.
Fabiana, em suas palavras finais, expõe sua dor e saudade, ao mesmo tempo que se ampara no sorriso sereno da mãe para seguir:
"Tanto nossa Rutinha, quanto Vó Maria eram pessoas de paz e que só queriam o bem de todos. Seguir em frente sem nossas mães e enfrentar o silêncio e a saudade imensa são coisas muito difíceis. Mas as lembranças de humildade e serenidade de minha mãe são uma companhia constante. Acreditamos que elas estão em paz e nosso amor será eterno".
A mãe de Ruth, Maria Ferreira da Silva, também faleceu em decorrência da Covid-19, sete dias antes da filha, e há no Memorial um tributo em homenagem a ela.
Ruth nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Ruth, Fabiana da Silva Andrade. Este texto foi apurado e escrito por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 8 de outubro de 2020.