1929 - 2020
A mesa farta, a família reunida e a certeza de que todos estavam bem eram sua maior alegria.
Seu Bininho ou Seu Bino, como era carinhosamente chamado por todos, foi uma pessoa de coração muito maior do que parecia ter. O 1,60m de altura não condizia com o gigantismo de sua bondade. Bastava conhecê-lo um pouco mais para perceber o quão caridoso e preocupado era com os demais. Trabalhou a vida toda na mesma empresa, de onde tirou o sustento de sua família e de quem mais precisasse, pois a solidariedade era sua religião. Ninguém saía de sua casa sem ouvir: “Você tá precisando de alguma coisa?” Fosse qual fosse a necessidade, ele corria para ajudar.
Filho de portugueses que vieram para o Brasil em busca de vida melhor, seu Bininho nasceu no Ipiranga, em 17/09/1929. Nunca negou o sangue português, sendo sempre muito sincero. Não gostava de florear as conversas, e a honestidade estava no topo de todos os seus princípios.
Casou-se com Amélia e tiveram cinco filhos, que se tornaram dez, “com três que minha avó já tinha e mais dois filhos de coração”, conta o neto Gustavo. “Filhos que, na verdade, eram dois netos que meu avô adotou, diante das dificuldades dos meus tios.” Aliás, sempre esteve perto para amparar os 20 netos e 12 bisnetos. Seu Bino era homem forte “e sabia de nossos medos, de nossas necessidades, assim, de longe. Ao menor sinal, já tomava a frente como um herói. A gente aprendeu a se sentir seguro com ele”.
Brincalhão, “gostava de pegar a gente com aqueles apertos de mãos pra espremer os dedos que faziam a gente se dobrar até o chão ou até mesmo pegar a gente despercebido e apertar a barriga para fazer cócegas. Fazia uma cara de sério como quem estava pensando em outra coisa e, quando a gente menos esperava, ele atacava. Mesmo quando a gente já sabia que isso ia acontecer, era divertido e ele dava um jeito de transformar em surpresa”, diz o neto.
Sempre teve suas manias, guardava documentos e fotos num quarto, e ali ninguém podia mexer, pois eram sua privacidade. Ficava “bravo de verdade”, mas por pouco tempo.
Além da família, a boina e um radiozinho de pilha eram os melhores companheiros. Ele podia deixar qualquer coisa para trás, mas não saía sem antes perguntar: “Cadê meu boné?” O radiozinho alto estava sempre sintonizado em algum jogo de futebol: era palmeirense fiel, não perdia uma partida. Gustavo conta que muitas vezes, quando iam visitá-lo, “aos domingos, ele estava na sala, sentado, com os olhos grudados na TV e o radiozinho colado no ouvido, atento a cada lance”.
“Meu avô era um bon vivant familiar. Trabalhador, homem de família. Sempre gostou de mesa farta, muita comida. Os cafés da tarde aos domingos eram imperdíveis, sempre recheados com muitos pães, bolos e doces. Estava escrito no olhar a alegria e a tranquilidade dele em ver todos juntos, comendo. Isso, para ele, era o que faz uma família”, lembra Gustavo.
Ele partiu em 19/07/2020, 2 meses antes de completar 91 anos, para começar uma outra jornada. A missão que ele veio fazer em vida, foi feita: educou com perfeição os filhos e filhas, passou os valores de um bom ser humano com excelência. Feliz é aquele que soube trazer pra si tudo o que ele pode ensinar.
A saudade fica, mas a certeza que a estrela dele brilha forte no céu junto com a esposa Amélia, com quem viveu por 50 anos, conforta o coração de todos e dá forças para seguir em frente.
Albino nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 90 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo neto de Albino, Gustavo Damalgo Gonçalves da Cruz. Este tributo foi apurado por Sandra Maia , editado por Sandra Maia , revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Phydia de Athayde em 1 de outubro de 2020.