1928 - 2021
Naturalmente elegante, encantava com seu jeito simples de ensinar as mais complexas regras gramaticais.
Jessy gostava muito de ler e de escrever, tinha o costume de percorrer o jornal de "cabo a rabo". Era formada em línguas pela USP e foi muito amada por seus alunos graças à sua dedicação e a atenção que a eles dispensava. Era trabalhadora, culta e possuía um ótimo senso de humor.
Exerceu a função de educadora dentro e fora das salas de aula, já que ajudava todo mundo: os netos, filhos de amigos e vizinhos. Foi, de fato, ótima professora, como bem ressaltou a filha Marcia: "Quando ela me ensinava Gramática parecia ser absolutamente simples, hoje eu sei que ela conseguia dar explicações de conteúdos complexos com a habilidade de torná-los facilmente compreensíveis".
A mesma paixão que Jessy dedicava ao ensino arrebatou seu coração pelo português Alexandre. Foi amor à primeira vista, conheceram-se na cidade de Presidente Prudente, ambos professores ― ela de Português, ele de Matemática. De uma bonita relação entre palavras e números, nasceu um namoro e, depois, um casamento; tiveram as filhas Junia, Marcia e Nicia. E a família cresceu com a vinda dos netos Marcela, Diego, Vitória e Alexandre; e dos bisnetos Marina, Yasmin, Pedro e Matheus.
Figura singular, Jessy atraía olhares e comentários. A filha Junia relata que não eram raros os momentos em que eram paradas e obrigadas a esperar em pé, por intermináveis minutos, ouvindo pessoas que as cercavam, fosse para tecer elogios ao seu desempenho em sala de aula, fosse por sua semelhança com a atriz Beatriz Segall.
Jessy apresentava-se sempre com muita altivez. Era rotina sair de casa pela manhã maquiada, cabelos impecáveis, saia justa abaixo dos joelhos, salto alto ― elegância clássica, retrato de uma época em que professores eram admirados e imitados.
Bastante afetuosa, Jessy transbordava amor e cuidado para com sua família. Especialmente nos momentos de dificuldades ela se fazia muito presente. Por exemplo, quando sua filha ficou precocemente viúva, ela colaborou como uma segunda mãe nos cuidados com os netos Diego e Vitória. Estar em sua presença era sinônimo de diversão, já que era muito inteligente, engraçada e antenada.
Jessy dizia que não gostava de “ajuntamentos", mas ficava feliz em se reunir com as três filhas. Em seus momentos de lazer gostava de música clássica e de curtir um bom filme. Outra coisa que a alegrava era chocolate. Era estudiosa e espiritualista, o que não aplacou seu medo do outro lado da vida.
Nas mais doces memórias da neta Marcela, estão os tempos de menina na casa bem arborizada e cheia de bichos da Vovó Jessy, na cidade de Vargas, em São Paulo. "Eles tinham um papagaio que imitava minha avó quando chamava meu avô: 'Xandreeee', e vice-versa: 'Jeeessyyy'", conta. A avó amava cultivar (e consumir!) frutas, verduras e legumes em seu quintal. Talvez, também por isso, foi sempre muito apegada à casa dela e se manteve decidida em viver por lá por toda a vida.
Nos últimos tempos o Alzheimer, provavelmente acelerado pela partida de seu amado, com quem havia compartilhado 50 anos de união, apagou bastante de suas memórias e conhecimentos, mas sua doçura manteve-se presente. Nos momentos em que ela se sentia receosa ou insegura, sempre pedia para segurar a mão daqueles que a acompanhavam. Ainda que, às vezes, já não reconhecesse suas filhas, seu amor por elas era inegável. "Pode-se dizer que o tempo foi apagando seu harmonioso conjunto de traços, mas jamais sua majestade", bem ressaltou Junia.
A filha Nicia se recorda que a forma como chamava pela mãe dizendo "mãããe, manhêêê" continuou igual desde a época que moravam juntas até após sua mudança de cidade; e que da mesma forma, a mãe continuava chamando por ela, mesmo quando dormindo, em sonhos. "Hoje, continuo chamando por ela, às vezes, até minha cachorra corre para conferir se ela está para chegar", declara saudosa a filha, ressaltando como Jessy permanece presente, agora como luz na vida de sua família.
Jessy marcou profundamente a vida das filhas, dos netos e de toda uma geração de jovens que com ela tiveram verdadeiras lições de vida.
Jessy nasceu em Presidente Prudente (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 92 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelas filhas e pela neta de Jessy, Junia, Marcia e Nicia Cassiano Cabral e Marcela Moreira. Este tributo foi apurado por Larissa Reis, editado por Ana Helena Alves Franco, revisado por Junia de Cassiano Cabral e moderado por Rayane Urani em 24 de agosto de 2021.