1934 - 2020
Orgulhava-se de ter construído seu próprio lar.
Seu Jaime foi metalúrgico durante grande parte de sua vida. Orgulhava-se de nunca ter perdido a hora e de não ter faltado nem um dia sequer ao trabalho. Ativo, adorava realizar suas caminhadas matinais, fazer ginástica, jogar dominó e ir aos eventos culturais e artísticos da cidade.
Casou-se uma única vez, aos 35 anos, com Elenice. De acordo com a concepção que se tinha na época, aquele casamento era considerado tardio, por isso Seu Jaime acreditava que não chegaria a ver os filhos crescerem. No entanto, o casal completou Bodas de Ouro e deu vida a uma família grande e unida com quatro filhos: Elenise, Elaise, Renato e Marcos. Desses frutos nasceram os quatro netos — Karine, Karolline, Miguel e Melissa —, os quais alegravam o avô sempre que estavam em sua companhia. A família era a sua grande paixão, dividindo espaço com o tão querido Santos Futebol Clube.
A história de amor de Jaime e Elenice começou quando ele foi à fazenda daquele que viria a ser seu sogro. Tinha ido auxiliar uma prima que estava preenchendo dados para o Censo do IBGE, e foi amor à primeira vista. Os cunhados se opuseram ao romance, já que havia uma diferença de quase 15 anos entre os dois, e ela, então com 17 anos, seria a primeira de 11 irmãos a se casar. Entretanto o amor dos dois foi maior, e eles aproveitaram uma vida feliz, sempre um ao lado do outro. Faziam tudo juntos, chegando até a construírem sozinhos a casa onde viveram por cinquenta e dois anos. Esse fato era, inclusive, motivo de muito orgulho para o Seu Jaime. Os dois até abriram um poço com 34 metros de profundidade quando compraram o terreno.
Seu Jaime auxiliava no grupo de escoteiros que sua esposa preside e era presença constante na Capela de Nossa Senhora de Fátima desde a sua inauguração: rezava, realizava pinturas e reparos e também ajudava na limpeza do local. Aos domingos, era o primeiro a chegar para varrer e molhar as plantas e, então, receber a todos com um sorriso, um aperto de mão ou um abraço de bom-dia. Como ele mesmo dizia, "trabalhava e zelava pela Casa de Deus". Quando, em uma conversa casual, sua esposa chamava-o de "meu Jaime", os amigos e vizinhos prontamente lhe respondiam "nosso Jaime", como ele era conhecido. As pessoas viam nele um homem dedicado, prestativo e sempre à disposição para encher uma laje ou realizar um conserto; ele era conhecido justamente pelo prazer que tinha de ser útil às pessoas. Com esse coração carinhoso e generoso, também chegou a ter mais de 30 afilhados ao longo da vida.
Mineiro raiz, amava sua terra natal e fazia questão de uma vez por ano visitar os parentes e amigos da região de Teófilo Otoni, juntamente com a esposa e os filhos. De lá, lembrava-se dos lugares onde viveu e sempre contava as histórias e recordações do seu passado. Na última viagem para Minas Gerais, reencontrou-se com familiares e pessoas do "seu tempo" em uma reunião dos descendentes da família Lopes e Teles, no Arraial do Biju, em Fidelândia. Foi um momento muito especial para ele.
Por onde passou, Jaime fez a diferença. "Foi e sempre será um exemplo de honestidade; era correto como poucos. Foi um grande marido, pai, avô, além de amigo de todas as horas. Um ser humano inesquecível e maravilhoso!", recorda a filha Elenise.
Jaime nasceu em Poté (MG) e faleceu em Mauá (SP), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Jaime, Elenise Lopes. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Karina Zeferino, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2021.