Sobre o Inumeráveis

Adalberto Aparecido Copcinski

1963 - 2021

Era o irmão mais velho que orientava, o pai que pegava no pé e o avô que se desmanchava pelo neto.

Adalberto era o mais velho dos quatro filhos do casal Maria Marta e André. Carregavam consigo um sobrenome proveniente do Leste Europeu, herdado do pai, mas foram criados com a família de sua mãe, originária de Minas Gerais.

Na posição de primogênito, ele tomava a frente de tudo e protegia os mais novos tentando não deixar que o mal chegasse perto de nenhum deles. "Ele sempre foi nosso guia, nosso sustentáculo! Em cada circunstância, dizíamos mutuamente 'fala com o Adal'", comenta a irmã Andréa. "Quando nosso pai faleceu, isto se tornou mais recorrente ainda. Invariável e inconscientemente, todas as grandes decisões passavam por ele".

"Sou a caçula e única mulher entre os quatro filhos", continua Andréa. "Então, a diferença de idade de dez anos só fez nosso laço de amor aumentar. Ele era parceiro dos irmãos: nos protegia, tomava nossas dores e nos incentivava a estudar, a crescer e a progredir na vida. Cabeça dura, mas imagina um coração imenso"...

Foi ele quem ensinou a irmã a ver as horas e a correr para sentir o vento bater em seu rosto. Trazia lanches e balas quando voltava das festas de madrugada, além de levá-la às feirinhas hippies, onde lhe comprava brincos. Ele era quem lhe tirava os maiores sorrisos. Adalberto era também quem a buscava de carro na escola. Andréa recorda-se que, naquela época, todas as meninas, suas amigas, suspiravam por ele. Inclusive, todas as suas namoradas passavam pelo seu crivo de ciúmes.

Mais velhos, Adalberto e Andréa trabalharam juntos no comércio da família, chamado Bar do André. Durante muito tempo, formaram uma parceria invejável. Na companhia um do outro, levantaram paredes e derrubaram tantas outras. Andréa ressalta que todas as ideias geniais feitas no estabelecimento familiar partiram do irmão: "Adalberto era visionário e possuía um forte espírito empreendedor. Tinha ideias que muitos consideravam malucas, mas, quando colocadas em prática, ficavam geniais"! A irmã ainda complementa: "O teto retrátil de nosso comércio, por exemplo, é uma atração à parte".

Adal, como era chamado pela família, foi o neto preferido de sua avó materna. Isto fazia com que ela caprichasse no preparo das refeições, pois sabia que o neto gosta de comer bem e era apaixonado pela culinária mineira. Adalberto gostava tanto de comida que uma de suas maiores realizações era preparar churrascos em família.

Foi um filho amoroso e presente para os pais e, apesar de desencontros e desentendimentos — próprios da rebeldia do adolescente —, eram parceiros do tipo que discutiam por tudo, mas não se largavam por nada.

Na juventude, divertiu-se em shows de rock, bebeu incontáveis garrafas de vinho, fartou-se de comidas saborosas e fez viagens incríveis. Tanto que, entre as recordações de infância que a irmã guarda consigo, está a época da adolescência, em que Adalberto era apaixonado por rock 'n' roll. Entre suas bandas favoritas estavam Led Zeppelin, Queen e ZZ Top. "Na infância, eu tinha cabelos longos. Com o som ligado no último volume, nos juntávamos para fazer shows imensos para plateias imaginárias. Enquanto ele se fazia de piano, eu agitava os meus cabelos", conta Andréa.

Além disso, tinha por hábito conhecer e frequentar bons bares e restaurantes para ter acesso a diferentes tipos de comida e bebida. O fato de gostar de boa comida, aliado à sua alma empreendedora, fazia com que ele sempre trouxesse novos sabores ao cardápio do comércio da família. Amava churrasco, pizza aos domingos e não media esforços para ajudar alguém.

Andréa conta que o irmão viveu e respirou o trabalho no Bar: “Nem sei se ele sabia o que era viver fora dali. Nas horas vagas e nas folgas ele ia pra lá! Atuo como gastróloga e tudo que sei sobre empreender, comércio e gestão, devo a ele. Muito da pessoa que me tornei veio dele".

Do amor incondicional de Adalberto pelo Corinthians resultou uma história que certamente ficará imortalizada: certa vez, em um dia de aniversário dele, o ídolo corintiano, Sócrates, desceu do carro para tomar a última bebida da noite em seu bar. "O meu irmão quase teve uma síncope, tamanha a alegria. Os dois ficaram comemorando o aniversário até às 6h da manhã. Inclusive, essa história está na biografia do jogador", conta Andréa.

Aliás, festas de aniversário memoráveis foram feitas no Bar do André, repletas de histórias estupendas, que permeiam a memória e preenchem a saudade do tempo vivido.

Adal ficou extasiado ao descobrir que seria pai. Nas palavras de Andréa: "Quando a Iara nasceu, surgiu também um cara ainda mais incrível, se é que isto era possível". Após três anos, nasceu o seu segundo filho, Adalberto. A partir daí, Adal viveu cada segundo de sua vida para o bem-estar de seus filhos e, posteriormente, de seu neto, André. Diariamente, telefonava para a filha. Trabalhou ao lado do filho. Estava sempre por perto para cuidá-los e protegê-los. Por vezes, enlouquecia sua prole com tantos cuidados, mas fazia tudo isso pelo mais sublime amor. Na gravidez da filha, não deixou de vê-la um dia sequer.

O nascimento do neto André tornou-se a realização de um sonho! Fazia de tudo por ele e tornou-se o avô mais babão deste mundo. Dizia que o menino era o seu "moleque". Certamente, as grandes prioridades de sua vida foram o comércio da família e, principalmente, os filhos e o neto.

Adalberto era um homem de extremos: você ou o amava, ou o detestava. "Com os amigos que fez ao longo da vida não foi diferente", conta Andréa. "Quem o conheceu ou o amou, ou se afastou. Entretanto, a grande maioria ficou, já que ele era um ser humano muito envolvente! Possuía um sorriso de desmontar qualquer um, um olhar que te deixava de joelhos e o abraço mais acolhedor que alguém poderia ter. Sabia, como poucos, guardar segredos. Quando ele partiu, a cidade parou, já que era bem conhecido por aqui".

Apaixonado pela vida, nos últimos anos estava mais fechado e reservado. Andréa rememora: "Volta e meia, sinto falta de lhe contar a minha mais nova conquista, já que, desde criança, era ele quem vibrava comigo pelas vitórias alcançadas. De todo modo, o que ameniza um pouco a falta que sinto é o amor deixado aqui. Depois de sua partida, muitas pessoas vieram nos contar histórias em que a generosidade e a parceria dele se sobressaíam, deixando uma legião de corações saudosos. Além disso ele continua em cada sorriso do André, de seus filhos, em cada decisão que tomamos. Ele está sempre aqui"!

Adalberto nasceu em São Bernardo do Campo (SP) e faleceu em São Bernardo do Campo (SP), aos 58 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã de Adalberto, Andréa Copcinski. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 6 de julho de 2023.