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Adalid Roger Chávez Zeballos

1959 - 2021

Um filho de Pachamama, de muitas religiões, vários deuses e uma fé inabalável.

Esta é uma homenagem, cheia de orgulho, escrita pela filha Sofia ao seu amado pai:

Adalid poderia ter sido apenas um descendente de Aimaras ou Incas, na geografia improvável dos Andes bolivianos.

Um garoto da periferia de São Paulo; excluído de forma odiosa pelas elites; psicólogo formado em "universidade de gente privilegiada".

Confrontou todas as formas de discriminação para honrar sua etnia, quando ainda não havia as políticas de reparação.

Casado com Elaine, de 39 anos, foi pai de uma filha e um filho: Sofia, de 29 anos, e Theodoro, de 5 anos. Teve abreviado seu ciclo de semear e colher, de educar e ver crescer. Tinha muitos sonhos a espera de serem realizados.

Homem de muitas religiões, vários deuses e uma fé inabalável. Andava desolado e incrédulo em relação à política e aos políticos.

Foi amigo das crianças, fazendo-se criança junto delas; brincava até cansar.

Um professor que aprendia na real prática dialética; um aprendiz que professorava para aprimorar sua ação poética.

Adalid poderia ter sido apenas mais um, mas não foi. Foi todos os muitos outros que pretendeu ser, e ainda muitos outros que ficamos sem conhecer. Foi, enfim, um poeta no domínio da palavra que o fazia tão grande.

Ensinou para poder aprender, honrou suas origens, amou e foi amado.

Sua alma voltou aos braços de Pachamama, Mãe da terra andina, feliz em receber mais um filho. Deixa ensinamentos, amores, esperanças e saudades.

Adalid nasceu em La Paz (Bolívia) e faleceu em São Paulo (SP), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Adalid, Sofia Silveira Chávez. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Nivaldo Ferraz, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 14 de março de 2021.