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Ademar Rodrigues Soares Filho

1957 - 2020

Tinha um cuidado muito especial com os sobrinhos e compartilhou com eles o amor pelas coisas simples da vida.

Ademarzinho foi um típico solteirão que arrumava namoradas aqui e ali, mas que reservava seu coração a amores nutridos pelos seus sentimentos mais puros de amor aos animais e aos seus familiares.

Não foi pai, mas tinha um carinho mais do que especial por seus 15 sobrinhos e pelos dez sobrinhos-netos. Um sentimento tão recíproco que fez desse tio um sujeito extremamente querido, que ganhou confiança como conselheiro e que recebeu convites para ser padrinho de todos os que subiram ao altar.

O que cativava todos era, sobretudo, a humildade de Ademarzinho e seu apreço pelas coisas simples da vida. Ele morava em um sítio e tinha paixão por seus animais, dedicando boa parte do seu tempo a cuidá-los. Sempre que podia, dividia com os sobrinhos a rotina de amansar boi, alimentar galinhas e conferir os cavalos.

A cunhada Elenilda é só uma das várias testemunhas de que Ademar fazia questão de estar presente para todos da família, em especial para os sobrinhos. Quando ela foi mãe de Marcella, viu a menina receber toda atenção e doses extras de carinho do tio. Quando foi mãe de Pedro, viu o menino ser levado para passar o dia no sítio com o tio que, inclusive, o ensinou a amansar e montar no boi para participar dos tradicionais desfiles de Sete de Setembro na cidade.

Anos depois, quando a sobrinha Camilla, que também é filha de Elenilda, se tornou mãe ainda bem jovem, tio Ademarzinho foi só amores para com Bernardo, a quem chamava de Bzinho. Era para ele que Ademar buscava leite de cabra pelas manhãs e levava "tanto cuidado e carinho todos os dias", como lembra Elenilda. Ainda que desempenhasse com maestria seu papel de tio e de tio-avô, não escondia que gostaria que Bzinho fosse seu filho e fazia questão de levá-lo ao sítio sempre que podia.

Quando não estava em casa, Ademarzinho gostava de ir visitar seus irmãos e, diariamente, marcava presença no escritório de Newton, esposo de Elenilda; o lugar era um ponto de encontro para os irmãos. Por lá, também encontrava os sobrinhos Pedro e Rafael. Aos domingos, a numerosa família se reunia para um churrasco de almoço e Ademar, sempre muito festeiro, se divertia e arrancava sorrisos de todos com suas danças.

Ademarzinho acreditava que a simplicidade era uma virtude e viveu mostrando a todos ao seu redor que as coisas importantes da vida não são coisas. O amor, o cuidado, a presença e a humildade são suas principais marcas; ensinamentos que permanecem em forma de boas lembranças e saudade.

Ademar nasceu em Ribeirão das Neves (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 62 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela cunhada de Ademar, Elenilda Aleixo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Jullia Cassia em 30 de outubro de 2020.