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Ademir Mendonça da Silva

1961 - 2020

Vencedor, achava que a escola não era o único caminho para vencer na vida, pois de lá não gostava não.

O que lhe trazia felicidade eram coisas simples, extremamente simples: ter comida na mesa, a consciência tranquila, roupas folgadas para usar, a possibilidade do sono sagrado, a família reunida, ter sempre os pés no chão e gente animada.

"Seu maior sonho era ser feliz e esse foi seu maior propósito. E ele foi!", conta Dulcineia, que homenageia o irmão na forma de uma poesia de autorreflexão e declaração:

Eu venci!
Tive ao meu lado a mulher que eu amava,
Companheira fiel, mãe dedicada.
Dona do lar, sempre estava comigo.
Muita estripulia eu fiz, Eutide, contigo.
Por tudo, peço perdão, minha "véia"!
Quarenta anos de convivência, como você teve paciência?
Nossa história, nossa vida, nossa família reunida...

Eu venci!
Meus filhos me fizeram pai e avô,
Trouxeram muita alegria, preocupação e amor.
Tudo isso junto era a receita perfeita.
Lutei por todos, mesmo sem saber demonstrar.
Esse era meu jeito torto de amar.

Eu venci!
Meus sonhos eram pequenos, tão fáceis de realizar...
Uma piada picante, fazia aqui e acolá.
Era meu jeito moleque de distrair e animar.
Na juventude fui fraco, caí na tentação,
Bebia demais e muito fumava.
Dei dor de cabeça pra minha mãe, que por mim sempre rezava
E, graças às suas orações, saí desse mundo louco,
Do qual quero me lembrar pouco.

Eu venci!
Apesar das dificuldades,
Apesar das duras pedras que encontrei no caminho,
Fui muito feliz, nunca estive sozinho.
A alegria fazia parte do meu dia;
Mesmo meus filhos me achando enjoado,
Eu seguia risonho lutando por todos, lado a lado.

Eu venci!
Fui um homem aprendiz...
Fui vivendo e de fato fui feliz!

Eu venci!

Ademir nasceu em Carauari (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Ademir, Dulcineia Mendonça da Silva. Este texto foi apurado e escrito por Alessandra Capella Dias, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 3 de outubro de 2020.